Outros elos pessoais

09 junho 2011

Sebastião Alba


Em 1977 ou em 1978, cerca das 4 horas de manhã, não me ocorre em que mês, Dinis Carneiro Gonçalves - o Sebastião Alba, um dos mais áticos poetas de língua portuguesa em meu entender - foi à minha flat na Julius Nyerere, cidade de Maputo, bateu à porta, eu abri, ele olhou sorridente para mim, com aquele sorriso irónico e penetrante que lhe conhecia e disse: "Calitos (sic), deixa-me ouvir o primeiro movimento da La Campanella!" Meio sonolento, pedi-lhe para entrar, fui ao meu velho giradiscos e pus a tocar o concerto para violino e orquestra no 2, em B menor, opus 7, de Niccolo Paganini, solo em violino de Shmuel Ashkensasi, disco comprado em 1973 e que ainda guardo. Dinis ouviu o trecho sem falar, dentro dele próprio, após o que partiu, como que apaziguado.

4 comentários:

  1. Que coisa mais bonita!!! Obrigadão, Carlos Serra!

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  2. Um dia vi um mini film sobre Alba, no qual dizia: "Hà muitos poetas conformados",ao que o homem que o filmava o perguntou: - E tu, näo-o és? E ele respondeu: - Näo.
    Esse filme deccoria numa casa abandonada, na qual o Alba vivia, sem nenhumas condiçöes de uma habitaçäo sä.
    Achei Alba um homem muito honesto para ele mesmo, quando se desligou da ditadura da vida social em que vivemos, preferindo viver ao Deus darà.

    E é verdade, no que o Dr.Carlos Serra conta, li num outro texto em que o quem conta esse episodio diz ainda que quando acordou, ao amanhecer, descobriu que o Alba tinha desaparecido, assim como uma garrafa de wisky.
    Muito original.

    Um bom dia para todos os seguidores desse blog.

    Félix

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  3. NINGUÉM MEU AMOR

    Ninguém meu amor
    ninguém como nós conhece o sol
    Podem utilizá-lo nos espelhos
    apagar com ele
    os barcos de papel dos nossos lagos
    podem obrigá-lo a parar
    à entrada das casas mais baixas
    podem ainda fazer
    com que a noite gravite
    hoje do mesmo lado
    Mas ninguém meu amor
    ninguém como nós conhece o sol
    Até que o sol degole
    o horizonte em que um a um
    nos deitam
    vendando-nos os olhos.

    Sebastião Alba

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  4. Assim era Sebastiao Alba, o Jaimito da Poesia...

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