Outros elos pessoais

06 maio 2011

Onde moram os pobres? (3)

Um provérbio na língua Tumbuka no Malawi diz o seguinte: "Não há funeral para o cadáver da galinha" (significado: a morte do pobre passa despercebida).
Neste terceiro número da série, escreverei um pouco sobre o primeiro ponto do sumário proposto, refiro-me à pobreza como definição.
Durante milhares de anos a pobreza foi considerada um dado natural. No século XIX lutas de trabalhadores colocaram a pobreza como dado social, como produto de desigualdades sociais inscritas num determinado modo de produção. Desde aí têm-se multiplicado as tentativas para contornar essa visão, inscrevendo a pobreza no quatro técnico de um problema com causalidade multifactorial. Fundamental tem sido dar à pobreza uma dignidade analítica e, por esse meio, medi-la com coeficientes e variáveis (também aqui). Mas o mais interessante no registo analítico é a espessa dedicação dada às estatísticas, em particular por instituições com o Banco Mundial (vendendo, como escreveu Eduardo Galeano, "a pílula da felicidade do mercado livre") e o Fundo Monetário Internacional, fulcrais na produção e na reprodução do modo de produção que, sem pausa, naturalmente, gera pobreza. A pobreza torna-se uma batalha de números, de percentagens, de gráficos. É muito interessante verificar o prazer de certas instituições em anunciar que a pobreza diminuiu x por cento. A este nível, os pobres moram nos números.
Imagem: Desocupados, quadro de 1934 do pintor argentino Antonio Berni
(continua)

3 comentários:

  1. Mais uma série do mesmo nível daquela sobre o poder. A citação do Galeano é perfeita. Estamos juntos.

    ResponderEliminar
  2. Os pobres em números, sem rosto...

    ResponderEliminar
  3. A pílula da felicidade parece ser letal.É bom ter presente .
    E agora ? Como é que se sai disto?

    ResponderEliminar

Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.