Outros elos pessoais

10 março 2011

Mal-estar na civilização (8)

"Todas as relações fixas e enferrujadas, com o seu cortejo de vetustas representações e intuições, são dissolvidas, todas as recém-formadas envelhecem antes de poderem ossificar-se. Tudo o que era das ordens sociais e estável se volatiliza, tudo o que era sagrado é dessagrado, e os homens são por fim obrigados a encarar com olhos prosaicos a sua posição na vida, as suas ligações recíprocas."
Prosseguindo a série. O ano passado, greves gerais agitaram a Europa, multidões surgiram nas ruas. Agora, multidões manifestaram-se e manifestam-se em África e no Médio Oriente. Eis seis perguntas de fundo: (1) estamos perante um mesmo tipo de crise?, (2) se sim, que tipo de crise?, (3) que tipo de actores protesta?, (4) os protestos são contra o quê e quem?, (5) quais as características dos protestos?, (6) qual o futuro dos protestos?
Escrevi no número anterior que esta crise não é europeia, asiática, ameríndia ou africana,  é uma crise que não é cristã, muçulmana, hindu ou ateia, é uma crise global e independente de continentes, de religiões, de modelos sociais e culturais e de estádios de desenvolvimento, ainda que mais acentuada nos países da periferia. Verdadeiramente estamos perante a senilidade do capitalismo, para usar uma expressão da Samir Amin. E, face à crise, que tipo de actores está na linha da frente dos protestos e das revoltas?
Generalizadamente, na Europa (especialmente em França e no Reino Unido), no norte de África e no Médio Oriente, são jovens que têm estado activos nas manifestações, jovens severamente afectados pela crise do capitalismo, pelo desemprego, pela alta de preços. Muitos desses jovens são formados, têm cursos superiores. Mas, também, foi visível o rosto feminino de muitos manifestantes. Esses jovens (muitos dos quais sem abrigo) e essas mulheres interrogam o futuro, manifestando o seu cansaço face à precaridade laboral, à carestia de vida e aos regimes ditatoriais.
(continua)
Adenda: o título é o de um livro de Sigmund Freud.

2 comentários:

  1. As mulhers foram importantes especialmente na Tunísia e no Egito.

    ResponderEliminar
  2. O capitalismo não deve ser reformado ou restruturado. Deve ser extinguido tal como se fez com o Nazismo. Nós fomos reduzidos a maquinas de producao, e arrancaram-nos a qualidade de seres humanos.

    ResponderEliminar

Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.