Outros elos pessoais

18 março 2011

Cinco riscos espreitando os jovens cientistas sociais moçambicanos (4)

O quarto número da série.
Escrevi no número inaugural ser possível considerar cinco importantes riscos que espreitam os jovens cientistas sociais moçambicanos. Quais são esses riscos? Esses riscos são os seguintes: (1) o risco do amor ao conforto do gabinete, (2) o risco do amor às opiniões, (3) o risco do amor às consultorias dos temas da moda, (4) o risco do amor à ascensão política e (5) o risco da vaidade paroquial.
Vamos ao terceiro risco, com mais algumas hipóteses. Terminado o seu mestrado ou o seu doutoramento, o jovem cientista social moçambicano faz contas à vida e chega à conclusão cristalina de que vive numa economia de mercado. A vida está difícil, há a casa para o futuro, a família, os estudos dos filhos, a viatura, a reforma e muitas outras pagantes coisas, num meio onde campeia a apologia do empreendedorismo e do enriquecimento e o sucesso na vida se mede pela ostentação. A ciência pura é bela, sem dúvida, mas não cabe no futuro e no mercado. A praça está cheia de temas rentáveis, temas sedutores, os temas da consultoria: HIV, género, democracia e boa governação, sociedade civil, resolução de conflitos, empreendedorismo, etc. Os termos de referência existem, o modelo está produzido, é só executar, elaborar o relatório a começar pelo sumário executivo e a terminar com as sugestões para o futuro e, finalmente, ter o prazer de ter melhorado a saúde financeira da vida. Este tipo de pesquisa, encomendado por agências externas em suas delegações internas cuja finalidade é justificar e reproduzir o missionarismo neo-liberal da actualidade, canibaliza a pesquisa autêntica, interna, nativa, criadora, reflexiva. Os jovens cientistas deixam de o ser, convertidos sem problemas de consciência ao militantismo das consultorias. Em determinados casos pode até acontecer que os trabalhos dessas consultorias se tornem no critério institucional exclusivo de avaliação da qualidade científica dos jovens ex-cientistas. Neste género de militância, neste consultorismo, não é necessário pensar: ser-se pensado é útil e faz do futuro uma escala menos preocupante.
Prossigo oportunamente.
(continua)

3 comentários:

  1. "A praça está cheia de temas rentáveis, temas sedutores, os temas da consultoria: HIV, género, democracia e boa governação, sociedade civil, resolução de conflitos, empreendedorismo, etc.". Professor, essas modas afectam tambem os cientistas sociais nao jovens, sobretudo genero e feminizacao do HIV e tambem responde as demandas que o professor apresenta a seguir nomeadamente que "Este tipo de pesquisa, encomendado por agências externas em suas delegações internas cuja finalidade é justificar e reproduzir o missionarismo neo-liberal da actualidade, canibaliza a pesquisa autêntica, interna, nativa, criadora, reflexiva.". Sera que esses sao problemas de jovens cientistas sociais ou de alguns cientistas sociais, jovens e velhos? Vieira

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  2. Aguardo com ansiedade os dois últimos itens especialmente o penultimo.

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  3. Concordo em 110% com este post. É só dar uma vista de olhos aos anúncios nos jornais, aos formulários de candidaturas para isto&aquilo e até os folhetos de afamadas escolas de produção do "saber"...

    Está tudo em doadorês. Doadorês, bem entendido, um novo dialecto local, restrito somente a alguns eleitos. Adoro ouvir certas amebas amestradas a palrar o doadorês.

    Nem Cantinflas faria melhor!

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