Outros elos pessoais

17 março 2011

Cinco riscos espreitando os jovens cientistas sociais moçambicanos (3)

O terceiro número da série.
Escrevi no número inaugural ser possível considerar cinco importantes riscos que espreitam os jovens cientistas sociais moçambicanos. Quais são esses riscos? Esses riscos são os seguintes: (1) o risco do amor ao conforto do gabinete, (2) o risco do amor às opiniões, (3) o risco do amor às consultorias dos temas da moda, (4) o risco do amor à ascensão política e (5) o risco da vaidade paroquial.
Vamos ao segundo risco, com mais algumas hipóteses. Emitir opiniões é, naturalmente, necessário e saudável. O problema começa quando, amparadas pela exibição de um título académico, as opiniões são transformadas num sistema exclusivo e definitivo de explicação dos fenómenos sociais. Aqui está o segundo risco na carreira dos jovens cientistas sociais moçambicanos: o opinalismo (provavelmente o problema, se bem colocado, não é apenas nosso, é global, para usar um termo da moda). O que é opinalismo? Opinalismo é a doutrina daqueles que, sem pesquisarem, sem passarem pela empiria do trabalho de terreno, de tudo entendem saber, sobre tudo sabem opinar e moralizar, tomando o que pensam pelo que é, o que é pelo que idealizam, confundindo a sua opinião com a realidade, o dever ser com o ser, convertendo pessoas e fenómenos ao seu sistema de crenças e prejuízos. Nos mais variados cenáculos da nossa terra, aos mais variados níveis, é frequente vermos, ouvirmos e lermos a sapiência infinita dos opinalistas. Não interessa sobre o quê - do cultivo de cebolas à emigração, das eleições aos roubos -, os opinalistas, imperturbáveis, arrogantes, sabem, sabem sempre. Jamais colocam algo como hipótese, tudo neles é certeza.
(continua)

4 comentários:

  1. De acordo, professor! São fortes tentações - usando a terminologia cristã (ou mesmo religiosa).

    Parece-me que há um desejo incontrolável de aparecermos ao público e que se nos faça vénia pelo "nosso" pensamento - que, na verdade, é pensamento dos outros...

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  2. Que os nossos jovens possam aprender aqui.

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  3. Professor,

    Como bem sabe, uma Licenciatura, hoje, na maioria dos casos, é o 15º ou 17º ano … do ensino secundário: na maior parte das Faculdades o ensino continua na base do “empinar” o que está nos apontamentos, e não na pesquisa, que caracteriza /deveria caracterizar o ensino Universitário

    É frequente vermos nos anúncios de oferta de emprego a exigência de “conhecimentos de informática, “na óptica do UTILIZADOR”. É o que acontece com grande parte dos Licenciados: exige-se-lhes que saibam aplicar os conhecimentos adquiridos, na óptica do UTILIZADOR, em funções perfeitamente parametrizadas: são, como alguém já disse, EXECUTORES.
    Na realidade, o que exige a Faculdade para atribuição dos diferentes graus?

    1. Licenciatura: que mostre, simplesmente, ter ADQUIRIDO determinados conhecimentos.
    2. Mestrado: que seja capaz de DEMONSTRAR a aplicação do conhecimento adquirido com a Licenciatura;
    3. Doutoramento: que, fruto da investigação nos apresente algo de novo, nem que sejam novas dúvidas.
    Por isso, acho que os nossos jovens licenciados e mestres, antes de irem para as TV´s e outros fóruns arvorarem-se em Cientistas disto e daquilo, precisam, em regra, de queimar muito as pestanas, para passarem de simples recipientes de conhecimento adquirido.
    _______
    A questão que o Professor levanta nesta postagem – OPINIÃO – é de uma extraordinária importância: deparamo-nos com frequência a nível do aparelho de Estado e em diversos “fóruns”, não com interpretações técnicas e fundamentadas da Lei, por exemplo, mas com Opiniões pessoais deste ou daquele indivíduo, com os mais disparatados “slogans” políticos (na maioria dos casos) numa clara demonstração de falta de Profissionalismo.

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  4. E pelo que se ve, o vacuo de profissoes tecnico-profissionais (colarinho azul) comeca tambem a ser preenchido por mao-de-obra estrangeira. Na construcao civil, os chineses dao cartas. E os mocambicanos, se quiserem faze-lo, deverao agir como chineses. Quem vai ao interior, encontra extensionistas da India e Bangladesh a cuidarem do circuito grossista do Cha, Coco e Caju, garantindo a exportacao eficiente desta mercadoria para o Sudeste Asiatico. Finalmente, nas urbes, o comercio e o circuito monetario e na totalidade dominado por nativos e descendentes de Indianos e Paquistaneses, que exportam os capitais para outras paragens do mundo.

    Numa palavra, os mocambicanos que constituem a maioria da populacao, estao agora ancorados em dois extremos. Proximos do trabalho-escravo ou de subsistencia. Ou embriagados nas miragens do poder subsidiado ou do capitalismo chap-cem.

    Com um hiato tao pronunciado, parecemo-nos cada vez mais com os libios de Kadhaffi ou os angolanos de Ze-Du. Com o agravante de nao termos petroleo para continuarmos a sustentar as nossas megalomanias mentais. E de nada adiantam lamurias terceiro-mundistas nos fora mundiais ou mesmo blogs. E tempo de preencher, sem demagogias, nem apparatchiks, o vacuo entre as diferentes franjas que constituem a sociedade mocambicana. Este Governo ja deveria - e a muito - ter compreendido isso. Nao se ergue uma casa somente com chao e telhado, desconhecendo a finalidade dos pilares, das vigas e das paredes!

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