"Todas as relações fixas e enferrujadas, com o seu cortejo de vetustas representações e intuições, são dissolvidas, todas as recém-formadas envelhecem antes de poderem ossificar-se. Tudo o que era das ordens sociais e estável se volatiliza, tudo o que era sagrado é dessagrado, e os homens são por fim obrigados a encarar com olhos prosaicos a sua posição na vida, as suas ligações recíprocas."
Prosseguindo a série. O ano passado, greves gerais agitaram a Europa, multidões surgiram nas ruas. Agora, multidões manifestaram-se e manifestam-se no norte de África e no Médio Oriente. Eis seis perguntas de fundo: (1) estamos perante um mesmo tipo de crise?, (2) se sim, que tipo de crise?, (3) que tipo de actores protesta?, (4) os protestos são contra o quê e quem?, (5) quais as características dos protestos?, (6) qual o futuro dos protestos?
Escrevi, anteriormente, que se o modo capitalista de produção é um produtor e reprodutor por excelência de desigualdades sociais, tem, porém, uma virtude identitária global: incessantemente, une continentes, países e povos com mecanismos de comunicação, mercadorias, ideias e sonhos. E, fazendo-o, dota-os, afinal, de um mesmo sistema de produção e de reprodução sociais que dilui, que dissolve em permanência diferenças e fronteiras, mesmo as mais sólidas.
Vamos agora ao norte de África e ao Médio Oriente, com a primeira pergunta da série: estamos perante um mesmo tipo de crise?
Para além do perímetro dos bairros de luxo das grandes cidades, para além da variedade histórica e cultural, o pano de fundo é constituído por fenómenos como a pobreza generalizada, os salários precários, o desemprego, a subida galopante dos preços. É nesse pano de fundo, nessa angústia, no bojo desse enorme ponto de interrogação plantado no futuro, que se movimentam e se ampliam os protestos populares por efeito dominó. Pano de fundo meramente norte-africano ou árabe? Não, pano de fundo apoiado pelas grandes potências capitalistas (e seus vorazes interesses petrolíferos), as mesmas que agora exigem democracia e reformas.
Prossigo mais tarde.
Prosseguindo a série. O ano passado, greves gerais agitaram a Europa, multidões surgiram nas ruas. Agora, multidões manifestaram-se e manifestam-se no norte de África e no Médio Oriente. Eis seis perguntas de fundo: (1) estamos perante um mesmo tipo de crise?, (2) se sim, que tipo de crise?, (3) que tipo de actores protesta?, (4) os protestos são contra o quê e quem?, (5) quais as características dos protestos?, (6) qual o futuro dos protestos?
Escrevi, anteriormente, que se o modo capitalista de produção é um produtor e reprodutor por excelência de desigualdades sociais, tem, porém, uma virtude identitária global: incessantemente, une continentes, países e povos com mecanismos de comunicação, mercadorias, ideias e sonhos. E, fazendo-o, dota-os, afinal, de um mesmo sistema de produção e de reprodução sociais que dilui, que dissolve em permanência diferenças e fronteiras, mesmo as mais sólidas.
Vamos agora ao norte de África e ao Médio Oriente, com a primeira pergunta da série: estamos perante um mesmo tipo de crise?
Para além do perímetro dos bairros de luxo das grandes cidades, para além da variedade histórica e cultural, o pano de fundo é constituído por fenómenos como a pobreza generalizada, os salários precários, o desemprego, a subida galopante dos preços. É nesse pano de fundo, nessa angústia, no bojo desse enorme ponto de interrogação plantado no futuro, que se movimentam e se ampliam os protestos populares por efeito dominó. Pano de fundo meramente norte-africano ou árabe? Não, pano de fundo apoiado pelas grandes potências capitalistas (e seus vorazes interesses petrolíferos), as mesmas que agora exigem democracia e reformas.
Prossigo mais tarde.
(continua)
Adenda: o título é o de um livro de Sigmund Freud.
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