Outros elos pessoais

24 dezembro 2010

Notas sobre WikiLeaks (12)

Mais um pouco desta série (mapa em epígrafe do Spiegelonline aqui, pode também ver um outro mapa elaborado pelo Guardian aqui).
4. WikiLeaks e ciberactivismo (continuidade deste ponto do sumário). Observei no número anterior que, em função dos eixos de luta ciberactiva que apresentei, há cinco perguntas a ter em conta: pode o WikiLeaks ser considerado (1) um movimento terrorista?; (2) um movimento anarquista?; (3) um movimento social?; (4) o equivalente ou o substituto electrónico dos protestos sociais clássicos de rua?; (5) traduz o movimento a transição para um novo mundo?
Passo de seguida a uma tentativa de resposta à primeira pergunta.
Escreveu um dia Alcméon, filósofo pré-socrático e médico grego, que "os deuses têm certezas, enquanto que aos humanos só resta a conjectura". Podemos chamar ao WikiLeaks o problema de Alcméon, um problema que recobre muitas facetas e muitos prismas desde que foram libertados os males e os demónios da caixa de Pandora.
Então, duas vertentes  analíticas são possíveis no problema de Alcméon, dependendo do ângulo em que nos situarmos e dos interesses que defendermos: encarar WikiLeaks como um movimento legítimo de Espártacos em luta de barricadas digitais contra os senhores do mundo, seus segredos e suas técnicas cada vez mais sofisticadas de controlo humano (aqui); ou, pelo contrário, criminalizados e judicializados, tê-los como os inauguradores do terrorismo digital, para usar a expressão de um comentador que, esgrimindo três pressupostos, pensa na vulnerabilidade do que chama sociedades "livres e abertas".
Com outras palavras: do ponto de vista de uma variedade de actores planetários que, mais do que consumir o social, o analisa, o critica e a ele resiste face às regras impostas pelos senhores do mundo, WikiLeaks é um exercício de luta saudável em favor de um mundo diferente; do ponto de vista do Estado norte-americano e dos agentes estatais na generalidade no planeta (mas há excepções, Cuba, por exemplo: aqui, aqui e aqui), WikiLeaks é um perigoso grupo de terroristas ou disso vizinho, um inimigo do Estado, um subproduto digital dos métodos da Al-Qaeda  (por exemplo, confira a posição da republicana Sarah Palin, aqui), uma versão ocidental de Osama bin Laden.
O que chamamos realidade é, afinal, uma interpretação no processo de comunicação: esta, a filosofia construtivista da Escola de Palo Alto aplicada aos processos terapêuticos em psicologia e psiquiatria, mas que nada custa adaptar a todos os processos sociais, como acabais de verificar.
Prossigo mais tarde.
(continua)
Adenda: a qualquer momento, como é meu hábito neste diário, posso introduzir emendas no texto em epígrafe.

2 comentários:

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