Outros elos pessoais

14 novembro 2010

Graça, Marcelino e Rebelo: a frente crítica (16)

Mais um pouco da série.
3. O futuro. Escrevi no último número que seria possível multiplicar os testemunhos, as inquietações, digamos que a busca multilateral de uma linha moral face à maneira como é gerido e politicamente justificado o social no nosso país. E acrescentei: pessoas como Graça Machel, Marcelino dos Santos e Jorge Rebelo – possivelmente há muitas outras - estão preocupadas com a linha moral, estão preocupadas com o futuro.
Essa linha moral cabe inteira no horizonte utópico.
No seu sentido corrente, pejorativo, utopia significa fuga do real, evasão, demissão, fantasia, etc. Mas é possível ter em conta um outro sentido.
Num dos seus livros (“Ideologias da independência africana”) o filósofo burundês Melchior Mbonimpa usou uma imagem - para mim excepcionalmente bela - a propósito do que chamou horizonte utópico: cada protagonista desse horizonte assemelha-se a alguém que, tendo atirado uma bola a um rio no sentido da foz, se lança à água para a apanhar, sem nunca a recuperar mas ao mesmo tempo sem nunca a perder de vista e sem nunca desesperar de a recuperar. Há nisso, ao mesmo tempo, um horizonte, porque o objecto se afasta sempre; e um propósito, porque o alvo, ainda que inacessível, resta visível e leva sempre mais longe o nadador que acredita poder um dia apanhar a bola para a qual projecta o seu desejo infinito.
Temos, assim, o aprofundamento imagético de uma concepção de Karl Mannheim no seu livro “Ideologia e utopia”, para quem ideologia é o conjunto de ideias que visam manter um determinado tipo de sociedade e utopia, o conjunto das ideias destinadas a criar um novo tipo de sociedade.
(continua)

4 comentários:

  1. Pepetela escreveu um excelente livro: "A Geracao da Utopia".

    Um verdadeiro tratado historico.

    ResponderEliminar
  2. Bem, comeco a achar entao que a hora 'e perfeita pra uma ideologia e uma nova utopia na concepcao ou defenicao de Karl Mannheim,

    Face ao caos, nada melhor que comecarmos do zero, a construir um pais, uma nacao melhor, mais justa e prospera.

    Pelos erros cometidos, pelo temos a certeza do que nao 'e ideal e nao queremos para nos,

    Abrimos um novo horizonte, onde viajamos por caminhos novos, menos dolorosos, mais bonitos, caminhos de esperanca, utopicos no sentido de Melchior Mbonimpa, onde a bola jogada 'e o Bem, a conquista da felicidadade, tolerando, partilhando , rumo ao crescimento sustenvel.

    ResponderEliminar
  3. Vamos a ver a continuidade da série...

    ResponderEliminar
  4. Aprender a arquitectar

    http://obviousmag.org/archives/2005/04/a...

    ResponderEliminar

Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.