Do rio que tudo arrasta se diz violento, porém ninguém diz violentas as margens que o comprimem" (Bertolt Brecht).
Mais um pouco da série.
No número anterior e a propósito dos trágicos acontecimentos ocorridos em Muidumbe (2002/2003), deixei as seguintes perguntas: mas qual a causa ou quais as causas da violência do rio? Diremos que a causa tem a ver com a credulidade popular, com o pensamento simbólico do tipo analógico?
A resposta mais fácil, mais corrente, consiste, efectivamente, em atribuir à credulidade a razão de ser dos linchamentos. A violência colocada na chacina de inocentes era bem visível e nada custava (nem custa) colocar o fenómeno A (credulidade) como antecedente causal do fenómeno B (linchamentos), juntando ao conjunto uma dose adequada de "barbárie".
Porém, as armas destinadas ao abate dos leões poderiam estar na administração do distrito de Muidumbe ou terem vindo rapidamente com os caçadores da sede da província. A violência invisível, a violência sem violência à vista, a violência das margens, está, afinal, bem colada à tragédia vivida em Muidumbe, ao rio que galgou as margens sociais, sem ela não se compreende o que se passou.
Por outras palavras: a violência violenta, visível e paroxística esconde a violência violenta, invisível e processual (foto reproduzida daqui).
Por outras palavras: a violência violenta, visível e paroxística esconde a violência violenta, invisível e processual (foto reproduzida daqui).
(continua)

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