Outros elos pessoais

26 junho 2010

Vuvuzela (5)


Mais um pouco desta série, que tem como tema não o futebol em si, mas a prosaica vuvuzela (imagem reproduzida daqui), ruidoso aparelho que emite um som de 125 decibéis, mais potente do que o de uma motoserra (100 decibéis).
No número anterior escrevi que a vuvuzela é uma espécie de ingrediente de um inconsciente colectivo castrense ao mesmo tempo reactivado e infantilizado.
Mas não me parece também má hipótese defender que a vuvuzela é um fusível, uma comporta aberta, uma válvula de escape, um desaguadouro de tensões e de estados panópticos activos e persistentes. Numa civilização cada vez mais portadora de interditos e de punições, a inofensiva vuvuzela assume o papel de uma enorme desforra sem perímetro, de uma compensação redentora, tanto mais eficaz quanto é colectivamente posta em acção nos enormes templos profanos que são os estádios de futebol do tipo Kings Park na África do Sul.
(continua)
Notas: (1) imagem reproduzida daqui; (2) recorde a minha série com o título Futebol: violência ritualizada e religião profana, aqui.

1 comentário:

  1. Sinto da parte dos europeus uma pontinha de inveja.

    Os africanos mostraram uma vez mais que sao pessoas originais. Este Mundial e um sucesso de bilheteira, de expontaneadade e de liberdade de expressao cultural.

    Mesmo sendo a RSA um dos paises mais violentos do mundo.

    E digo mais. Entre ter que OUVIR palavroes gritados por claques malcriadas, cada vez que o guarda-redes chuta a bola, ou o "escurinho" faz uma finta em campo, prefiro ouvir vuvuzelas marcialmente tocadas em prol da festa do Futebol.

    E a coisa mais engracada e que os proprios europeus irao gostar de tocar a Vuvuzela num Benfica x Porto, Sporting x Benfica, Real Madrid x Barcelona, Celtic x Rangers quando o homenzinho do apito comecar a fazer das suas em campo.

    Por isso, pensem no lado bom da coisa...

    ResponderEliminar

Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.