Outros elos pessoais

21 março 2010

Hoje: Dia Internacional da Poesia

burilo docemente o fim da tarde canavial
e empresto à noite que chega quente
a altivez do tamarindo e o voo das rolas

agora vem comigo neste exacto momento
descobrir a alma das coisas mistas
aquelas coisas que são sempre feitas
do casamento denso dos instantes
e de seus múltiplos filhos desconhecidos
em cada gesto da nossa savana sem raça

Carlos Serra 07/10/2007

3 comentários:

  1. Curiosamente, estou a ler Joaquim Teixeira de Pacoaes e Raul Brandão, dois poetas portugueses extraordinários.

    Mais uma vez o professor a ler os meus pensamentos, os meus gostos, como se este Diário fosse criado só para mim! Vale a pena ler Pascoaes e Raul...É coisa de um sociólogo.

    Mas deve me permitir duas palavras, antes de deixar à sala para os poetas, a primeira é que gostei do seu verso. Não sabia desse seu lado poético; a segunda, apelo ao MEC e o recém criado Ministério da Cultura para promover encontros sobre a poesia de modo a que os meus sobrinhos em Changara saibam, por via dos livros, o talento de Serra, Craverinha, Artur, Lemos, White, Baptista, Fijamo e muitos outros.

    Zicomo

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  2. Aos que virão depois de nós (Bertold Brecht)


    I

    Eu vivo em tempos sombrios.
    Uma linguagem sem malícia é sinal de
    estupidez,
    uma testa sem rugas é sinal de indiferença.
    Aquele que ainda ri é porque ainda não
    recebeu a terrível notícia.

    Que tempos são esses, quando
    falar sobre flores é quase um crime.
    Pois significa silenciar sobre tanta injustiça?
    Aquele que cruza tranquilamente a rua
    já está então inacessível aos amigos
    que se encontram necessitados?

    É verdade: eu ainda ganho o bastante para viver.
    Mas acreditem: é por acaso. Nado do que eu faço
    Dá-me o direito de comer quando eu tenho fome.
    Por acaso estou sendo poupado.
    (Se a minha sorte me deixa estou perdido!)

    Dizem-me: come e bebe!
    Fica feliz por teres o que tens!
    Mas como é que posso comer e beber,
    se a comida que eu como, eu tiro de quem tem fome?
    se o copo de água que eu bebo, faz falta a
    quem tem sede?
    Mas apesar disso, eu continuo comendo e bebendo.


    Eu queria ser um sábio.

    Nos livros antigos está escrito o que é a sabedoria:
    Manter-se afastado dos problemas do mundo
    e sem medo passar o tempo que se tem para
    viver na terra;
    Seguir seu caminho sem violência,
    pagar o mal com o bem,
    não satisfazer os desejos, mas esquecê-los.
    Sabedoria é isso!
    Mas eu não consigo agir assim.
    É verdade, eu vivo em tempos sombrios!

    II

    Eu vim para a cidade no tempo da desordem,
    quando a fome reinava.
    Eu vim para o convívio dos homens no tempo
    da revolta
    e me revoltei ao lado deles.
    Assim se passou o tempo
    que me foi dado viver sobre a terra.
    Eu comi o meu pão no meio das batalhas,
    deitei-me entre os assassinos para dormir,
    Fiz amor sem muita atenção
    e não tive paciência com a natureza.
    Assim se passou o tempo
    que me foi dado viver sobre a terra.

    III

    Vocês, que vão emergir das ondas
    em que nós perecemos, pensem,
    quando falarem das nossas fraquezas,
    nos tempos sombrios
    de que vocês tiveram a sorte de escapar.

    Nós existíamos através da luta de classes,
    mudando mais seguidamente de países que de
    sapatos, desesperados!
    quando só havia injustiça e não havia revolta.

    Nós sabemos:
    o ódio contra a baixeza
    também endurece os rostos!
    A cólera contra a injustiça
    faz a voz ficar rouca!
    Infelizmente, nós,
    que queríamos preparar o caminho para a
    amizade,
    não pudemos ser, nós mesmos, bons amigos.
    Mas vocês, quando chegar o tempo
    em que o homem seja amigo do homem,
    pensem em nós
    com um pouco de compreensão.

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  3. Com estes versos de Bertold Brecht, confirma-se as palavras de Joaquim Teixeira Pascoaes (poeta português)que o mundo, sem a poesia, não vale a ponta dum cigarro. É zero.

    Zicomo

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