Outros elos pessoais

21 fevereiro 2010

Televisão e poder simbólico (10)

Mais um pouco da série.
Não está aqui em causa o casamento em si de Lizha e Bang, o muito amor que, certamente, se votam reciprocamente.
O que está em causa é o espectáculo produzido pela STV, o jogo da vida transformado em catch, numa intensa ênfase dos sentidos e, especialmente, dos desejos, das aspirações, dos ideais de ascensão social e de riqueza. O casamento de Lizha e Bang, exponencialmente projectado para o grandioso mundo das vestes brancas, como que celestiais, foi e é um apelo à imagem da paixão (público não reclama a paixão, mas a sua imagem), do diferente, do fait divers total, da transgressão da rotina, do mundo tacanho da pobreza e dos chapas. Contra a complexidade da vida enquanto laço de Moebius, o casamento de Lizha e Bang ofereceu a simplicidade da vertigem do consumo diferente, a evacuação do igual, a exposição do fantástico encaixado num écran mágico. E é aqui que está o poder simbólico, fascinante e manipulatório na sua visibilidade invisivelmente agindo nas pessoas, pessoas que, certamente em grande número, se renderam à abolição da realidade em favor de neo-realidade de um modelo.
Prossigo no próximo número.
(continua)

1 comentário:

  1. O Casamento Dos Pequenos Burgueses
    (Chico Buarque)

    Ele faz o noivo correcto
    E ela faz que quase desmaia
    Vão viver sob o mesmo tecto
    Até que a casa caia
    Até que a casa caia
    Ele é o empregado discreto
    Ela engoma o seu colarinho
    Vão viver sob o mesmo tecto
    Até explodir o ninho
    Até explodir o ninho
    Ele faz o macho irrequieto
    E ela faz crianças de monte
    Vão viver sob o mesmo tecto
    Até secar a fonte
    Até secar a fonte
    Ele é o funcionário completo
    E ela aprende a fazer suspiros
    Vão viver sob o mesmo tecto
    Até trocarem tiros
    Até trocarem tiros
    Ele tem um caso secreto
    Ela diz que não sai dos trilhos
    Vão viver sob o mesmo tecto
    Até casarem os filhos
    Até casarem os filhos
    Ele fala de cianureto
    E ela sonha com formicida
    Vão viver sob o mesmo tecto
    Até que alguém decida
    Até que alguém decida
    Ele tem um velho projeto
    Ela tem um monte de estrias
    Vão viver sob o mesmo tecto
    Até o fim dos dias
    Até o fim dos dias
    Ele às vezes cede um afecto
    Ela só se despe no escuro
    Vão viver sob o mesmo tecto
    Até um breve futuro
    Até um breve futuro
    Ela esquenta a papa do neto
    E ele quase que fez fortuna
    Vão viver sob o mesmo tecto
    Até que a morte os una
    Até que a morte os una

    musica aqui:

    http://www.youtube.com/watch?v=JKvXqZboPy4&feature=related

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