Lenda urbana, boato ou rumor é "um relato anónimo, breve, com múltiplas variantes, de conteúdo surpreendente, contado como verdadeiro e recente num meio social do qual exprime de maneira simbólica os medos e as aspirações" (in Renard, Jean-Bruno, Rumeurs et légendes urbaines. Paris: PUF, 2006, 3.e éd, p.6).
Uma vez mais surgiu o rumor de que as medidas preventivas do governo contra a cólera se destinam, afinal, a disseminá-la. E uma vez mais houve agitação popular. Diz-se que esse fenómeno, corrente no norte do país, se deve à confusão entre cloro e cólera. "Assim, ao invés de entender “devem tratar água com cloro antes de a consumir”, os mesmos acreditam erradamente que a mensagem refere “devem tratar água com cólera antes de a consumir”. Uma explicação demasiado simplista. Quase todos os anos há quem se esforce para explicar que a relação é falsa e quase todos os anos o rumour reaparece (na Inglaterra, em 1832, não se usava ainda cloro e quando a cólera se disseminou no país e fez milhares de mortos nesse ano, vários médicos foram acusados de assassinato deliberado dos doentes "para pôr em prática técnicas de dissecação de cadáver e aprimorar seus conhecimentos de anatomia"). Sugiro a leitura do meu livro Cólera e catarse (2003). E, entre as várias séries deste diário dedicadas à análise dos rumores, recordem uma, em 13 números, com o título Ionge: populares acusam autoridades de prender a chuva nocéu e outra, em cinco números, com o título Leões, chuva, cólera e energia nociva: trajectórias de "guerreiros".
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