Outros elos pessoais

21 julho 2009

Prolongamento das actividades de Cristo


De acordo com o "Canal de Moçambique" de hoje, "três jovens empreendedores" (sic) decidiram criar em Nacala-Porto o Instituto Superior de Ciências e Gestão, cujo ano propedêutico já abriu com cerca de 280 estudantes. O sr. Pedro Tualufo, "sócio-gerente" (sic) da instituição, afirmou que o objectivo é melhorar a formação superior, em particular em Nacala, em geral no país. Para o bispo de Nacala, Dom Germano, "o ensino superior constitui o prolongamento das actividades do Cristo que em muitos casos se centravam em ensinar o próximo, dizendo que “ensinai Senhor a servir os irmãos”.
Adenda: no café da manhã de hoje da Rádio Moçambique, o Emílio Manhique entrevistou o director-geral (tratado por Professor Doutor) de um outro instituto privado acabado de surgir, que formará licenciados em administração e finanças. O director, cujo nome agora não me ocorre, afirmou que o seu estabelecimento poderia também oferecer um curso de direito mais barato do que noutras instituições, a 140 dólares/mês. O director falou muito na economia de mercado. Et pour cause. É com uma velocidade estonteante e empreendedora que os institutos superiores e as universidades vão surgindo (tal como, não menos empreendedoramente, os hotéis, os lodges, as casas de câmbio, as bombas de gasolina, os prostíbulos disfarçados, as clínicas, as igrejas milagreiras, as empresas de segurança, os "consultórios" dos doutores cura-tudo, etc.). Muitos e muitas mais surgirão. E, muito potencialmente, de forma definitiva em todo o lado, qualquer dia terminará a servidão, nada empreendedora, dos exames de admissão (coisa que o Sr. Miguel Mabote, presidente do Partido Trabalhista, empreendedoramente pediu há dias, falando para a Rádio Moçambique). Sem dúvida: o prolongamento das actividades de Cristo.

5 comentários:

  1. e depois falamos em "etica".

    sera possivel compreender a "etica", com baixa qualidade de ensino?

    "empreendedores"- sao hoje denominados todos aqueles que mesmo "burlando" decidem fazer-se a vida.

    o que se pode esperar dum graduado "mal formado"?

    que desenvolva o pais? que defenda o POVO? que construa a sociedade?

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  2. Onde e como são concedidos os licenciamentos para tanta universidade e institutos superiores?

    Alguém já parou para pensar que "ter um canudo", só por si de nada serve? Não é uma forma de enganar os jovens também? Será que Moçambique e os seus responsáveis pensam que o crescimento económico será conseguido por que se tem X doutores por m2?

    Onde estão as escolas básicas? Estão a funcionar para todas as crianças? Em que condições?Onde estão os cursos técnico-profissionais?

    Cego é aquele que não quer ver! Está na hora, de se investir na educação, mas com seriedade.

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  3. Micas
    Boas perguntas que você coloca. Em dois textos meus, eu levanto o mesmo problema. Um dos textos foi publicado, sem o meu consentimento, no Jornal Notícias do dia 4 de Dezembro de 2008 e outro recentemente apresentado no IX encontro de Pesquisadores em Educação da região Sudeste do Brasil.

    Os títulos são identicos: " O Direito à educação básica em Moçambique e a omissão do Estado"; O direito à educação básica em Moçambique: da omissão do Estado à exclusão educacional".

    Não vou desenvolver a tese que orienta os dois textos, mas adianto afirmar que no segundo apresento os números da exclusão no ensino básico em Moçambique. Nem todas as crianças estão na escola e nem existem escolas públcias e também "privadas" para todas as crianças em idade escolar obrigatória!

    Voltando ao tema em debate: não sei se a equipe do Prof.Dr. Manuel Cureva está atenta à equação expansão do ensino superior X existência de professores qualificados para atuarem nesse nível. Ou apenas, seguindo a orientação mercadológica, diante da pressão dos tubarões da educação, vai autorizando a abertura de mais e mais universidades e instituições de ensino superior no país.

    Nada contra a expansão. Mas deixa-me intrigada a velocidade e a forma. Ser "doutor" licenciado em alguma área, mesmo que não produza nenhum conhecimento, como você sabe, é um status. Também há uma ilusão, já descrita por Carnoy e Levin (1993), de que a Universidade levará a bons empregos. Gaudêncio Frigotto tem razão quando defende a produtividade da escola improdutiva"

    A propósito, professor, este senhor é mesmo Prof.Dr? Caso não seja, no mínimo que fosse processado por falsidade ideológica!

    Abraços

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  4. Sou a favor da expansão do ensino superior em todo o país. Contudo, o que lamento é como o ensino superior virou negócio, sem qualquer tipo de rigor, qualidade e profissionalismo. O governo, particularmente o pelouro da educação ainda vai engolir em seco tantas asneiras que teimosamente continua a cometer. Tenho muitas saudades do meu mestre o saudoso Dr. David Aloni, que muito lamentou, em tempos, o papel da UP, que estava a perder o leme das coisas...Dizer mais, não. Eu por aqui me fico!

    Um abraço

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  5. Tenho pensado que a Escola Industrial de Carapira, o Instituto Médio Agrário de Nacucha e a Escola Profissional de Muzuane situadas naquela zona teriam sido exemplos.

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