E termino esta série, com mais um testemunho, o da Senhora TFC:
“Nasci em (...), cresci em (...). Tive nove filhos, morreram oito, ficando apenas um. Estou no Centro de Apoio à Velhice porque o meu filho ameaçou-me de morte e acusou-me de feitiçaria, de estar a viver demais enquanto já sou muito velha. Este meu filho foi tratado por um curandeiro para me matar mas não teve coragem. Depois disso ameaçou-me de morte e expulsou-me de casa.
Acredito que esta contradição entre eu e o meu filho tem a ver com a propriedade que o meu marido deixou aquando da sua morte. Suponho que alguma coisa possa estar por detrás da atitude do meu filho, relacionado com o trabalho dos curandeiros.
Sou contra a existência da AMETRAMO (Associação dos Médicos Tradicionais de Moçambique)porque acho que eles são os maiores promotores das acusações.”
Acredito que esta contradição entre eu e o meu filho tem a ver com a propriedade que o meu marido deixou aquando da sua morte. Suponho que alguma coisa possa estar por detrás da atitude do meu filho, relacionado com o trabalho dos curandeiros.
Sou contra a existência da AMETRAMO (Associação dos Médicos Tradicionais de Moçambique)porque acho que eles são os maiores promotores das acusações.”
Nota: os depoimentos apresentados constam de um livro a ser editado este ano, com a seguinte referência: Serra, Carlos (dir), Linchamentos em Moçambique II (okhwiri que apela à purificação).
(fim)
Alo Professor ... parece haver uma contradicao no testemunho ... ela teve nove filhos, dos quais oito morreram e sobreviveu uma filha ... entao, de onde vem esse filho que a ameaca? Eh enteado, ou filho dela? Se for filho, entao sobreviveram-lhe dois filhos, e podemos inferir que ou teve 10 filhos ou morreram 7 filhos ... e/ou entao ela quis dizer que sobreviveu um filho e nao filha ... estarei errado?
ResponderEliminarReconferi o testemunho, é filho e não filha. Obrigado pelo reparo.
ResponderEliminarBom entendo que meus pais sao sagrados,seres imperfeitos, mas dignos de todo meu respeito... ler mais este depoimento me tras uma tristeza no coração enorme.Como um filho tem coragem de tamanha atrocidade?? Mesmo que nao a realizando como neste caso...mas so o fato de pensar em matar uma mae ja o faz um ser desprezível por mim.
ResponderEliminarOs velhos passam por isso por ja serem mais indefesos e conseqüentemente vulneráveis as maldades!!!
Nao resistindo enquanto enfermeira quem me dera poder cuidar destas pessoas chamada feiticeiras!!!
ResponderEliminarHa que acabar com essas crencas de bruxarias e feiticarias.Isso e um mal enraizado nas pessoas, principalmente nas zonas rurais.
ResponderEliminarProduto da ignorancia.
Embora tenha houvido dizer que mesmo alguns intelectuais acreditem nisso.Uma lastima..
Só alguns???????
ResponderEliminar Na última sessão da AR, numa das usuais troca de mimos entre bancadas, Danilo, deputado da Frelimo, de Gaza, quis brilhar e demagogicamente atacou mais ou menos nos seguintes termos (por memória):
ResponderEliminar“A Renamo queixa-se das realizações do governo na produção agrícola, saúde, transportes, energia, água rural, comunicações, etc., MAS, os seus deputados andam vem vestidos, nutridos, com 4x4, comunicam por celular; tudo isto graças ao Governo da Frelimo”.
Boavida, arguto Deputado da Renamo, aproveitou a basófia de Danilo e contra-atacou, mais ou menos nos seguintes termos (por memória):
“ Essa é a grande diferença entre a Renamo e a Frelimo. Para a Frelimo está tudo bem, desde que os seus Deputados estejam bem instalados na vida. Para nós, na Renamo, enquanto houver um compatriota com fome, sem aceso à água, cuidados de saúde, educação, não estaremos satisfeitos”.
A dramática realidade retratada no estudo coordenado pelo Prof. Serra, é o reflexo da MIOPIA dos que, como o deputado Danilo e sua Bancada, consideram que “Deputados bem mordomados = desenvolvimento.
__
Quem não conhece a FÁBULA do filho que carregava o velho e inválido pai para o deixar num lugar ermo, aguardando a morte… quando, a determinado ponto do percurso, o velho diz: hoje sou eu, amanhã serás tu, meu filho! O filho “ACORDA” … e volta com o velho pai.
ResponderEliminar Este “acordar” é aquilo a que esta idosa chama “falta de coragem” de seu filho para a matar: no fundo, é o “despertar da consciência” sobrepondo-se à miséria material do dia a dia e influência de curandeiros.
Na maior parte do nosso meio rural, a cujos valores esta idosa e o filho permanecem ligados, as pessoas valem enquanto úteis para a produção. Quando as forças se vão, como nos ensina a natureza, é tempo de partir… se não quisermos passar a ser apontados como “produto fora de prazo”: a destruir! ... Quem tem poderes para contrariar os princípios da natureza é feiticeiro.
Solução: desenvolvimento do Homem… PORÉM “quanto mais os problemas da civilização se tornam políticos, menos os políticos são capazes de os integrar na sua linguagem e nos seus programas”...logo, a solução não está, certamente, para breve.
__