"Nas regiões de Moçambique que serão beneficiadas pelo programa do SESI-SP, o cardápio da população é composto, basicamente por cereais, como milho e arroz e frutas como coco e abacaxi. Detalhe: a polpa do coco é desprezada. Sem conhecimento, os moçambicanos aproveitam apenas a parte líquida da fruta. Outro alimento muito utilizado pela população local é uma folha amarga, servida crua, conhecida como cacana. “Carne é artigo raro por lá. E, quando chega à mesa, a tradição pede que apenas o homem coma. Se houver sobras, mulher e filhos, nessa ordem, podem se servir”, diz Camilla Augusto Martins, nutricionista do SESI-SP, enviada a Moçambique para desenvolver o programa. Em sua primeira viagem àquele país, em maio do ano passado, Camilla pesquisou e analisou, durante um mês, os hábitos alimentares da população. Entre os desafios encontrados, o principal deles foi criar receitas com pouquíssimos ingredientes. Outro empecilho foi a falta de energia elétrica e gás, que impede o preparo de pratos com a ajuda de eletrodomésticos como fogão, geladeira, liquidificador e batedeira. “A escassez de comida também reduz o número de refeições diárias que deveriam ser feitas e limita a quantidade e variedade de nutrientes essenciais à saúde”, diz Camilla. “ “A escassez de comida também reduz o número de refeições diárias que deveriam ser feitas e limita a quantidade e variedade de nutrientes essenciais à saúde”, diz Camilla. “Os moçambicanos só se alimentam ao entardecer. Jamais quando saem de casa para trabalhar ou ir à escola”.
Vamos lá por partes, nesta curta série com um título irritante.
Primeiro recebi cópia de uma crítica veemente enviada por um compatriota a um programa chamado "Estilo e Saúde" da TV Record brasileira, retransmitido pela Miramar local no dia 19 de Maio, crítica a propósito de comentários feitos por uma nutricionista brasileira - que terá estado no nosso país e cujo nome o autor da crítica não fixou - a propósito do que os Moçambicanos comem. Resumo: a nutricionista conhece mal o país e nada sabe da nossa gastronomia, da nossa riqueza gastronómica.
Depois, uma jornalista da Rádio Moçambique disse-me hoje quem era a nutricionista brasileira. Trata-se de Camila Augusto Martins, referida no portal da citação mais acima.
Ora, nos próximos meses, 35 mil Moçambicanos receberão aulas de 98 voluntários da Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade, treinados por Camila, ao abrigo do Programa "Alimente-se Bem" desenvolvido pela Universidade Estadual Paulista a pedido do SESI de São Paulo. Os voluntários trabalharão com 22 receitas preparadas no Brasil do género: doce de bagaço de coco, iogurte de malambe, e puré de batata com cacana. Confira aqui e aqui.
A nutricionistra Camila esteve um mês em Moçambique, a pesquisar os nossos hábitos alimentares.
Finalmente, dizer que a Miramar está neste momento a retransmitir o citado programa da TV Record, programa que ouvi um pouco para ter o tempero que Camila disse que os Moçambicanos não sabem usar nas suas comidas.
Então, a seguir, vamos a ver algumas coisas e alguns problemas e, se possível, evitar os excessos de algum virulento nacionalismo gastronómico.
(continua)
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