"Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem" (Bertolt Brecht)
E termino esta série.
Na sabedoria espontânea, parece ser útil termos por verdadeiro que 2x2=4. É constitutivo do nosso pensamento e da nossa acção a construção de categorias domesticadoras e, frequentemente, criminalizadoras do anormal, em função do que pensamos e somos e, em particular, do que pensamos que os outros deviam pensar e ser.
Sem dúvida que, em função do nosso prisma, são chocantes os fenómenos que aqui passei em revista durante algumas semanas.
Sem dúvida que estamos perante a violência do rio que tudo arrasta em sua fúria.
Sem dúvida que os autores de crimes e destruições devem ser punidos.
Porém, bem mais difícil é – e frequentemente incómodo e indesejável também – estudarmos as margens sociais que tornam associal o rio da nossa vida.
O nosso país é um laboratório de profundas desigualdades sociais. É neste contexto que os fenómenos aqui em causa devem ser enquadrados e compreendidos.
Os amarradores da chuva e os introdutores da cólera evidentemente que não são reais, que não existem, que são falsos. Mas o problema do problema não está aí.
O problema do problema está em que relações objectivamente não fundadas são subjectivamente sentidas como fundadas, como verdadeiras, como reais. Por outras palavras: o que os pobres das zonas rurais estão a dizer é que sabem ver e sentir as assimetrias, as desigualdades sociais, que sabem observar que uns vivem bem, que não lhes falta a comida, que a chuva lhes é presente, que a cólera os poupa; e que outros, a maior parte, vivem mal, que lhes falta a comida, que a chuva emigrou deles, que a cólera os mata. É esta realidade que é expressa através de duas alegorias (a da chuva e a do cloro), é esse problema real que está embrulhado e disfarçado pelo envelope do bizarro e do ilógico.
Estamos confrontados com fusíveis sociais que saltam faz muito.
E termino esta série.
Na sabedoria espontânea, parece ser útil termos por verdadeiro que 2x2=4. É constitutivo do nosso pensamento e da nossa acção a construção de categorias domesticadoras e, frequentemente, criminalizadoras do anormal, em função do que pensamos e somos e, em particular, do que pensamos que os outros deviam pensar e ser.
Sem dúvida que, em função do nosso prisma, são chocantes os fenómenos que aqui passei em revista durante algumas semanas.
Sem dúvida que estamos perante a violência do rio que tudo arrasta em sua fúria.
Sem dúvida que os autores de crimes e destruições devem ser punidos.
Porém, bem mais difícil é – e frequentemente incómodo e indesejável também – estudarmos as margens sociais que tornam associal o rio da nossa vida.
O nosso país é um laboratório de profundas desigualdades sociais. É neste contexto que os fenómenos aqui em causa devem ser enquadrados e compreendidos.
Os amarradores da chuva e os introdutores da cólera evidentemente que não são reais, que não existem, que são falsos. Mas o problema do problema não está aí.
O problema do problema está em que relações objectivamente não fundadas são subjectivamente sentidas como fundadas, como verdadeiras, como reais. Por outras palavras: o que os pobres das zonas rurais estão a dizer é que sabem ver e sentir as assimetrias, as desigualdades sociais, que sabem observar que uns vivem bem, que não lhes falta a comida, que a chuva lhes é presente, que a cólera os poupa; e que outros, a maior parte, vivem mal, que lhes falta a comida, que a chuva emigrou deles, que a cólera os mata. É esta realidade que é expressa através de duas alegorias (a da chuva e a do cloro), é esse problema real que está embrulhado e disfarçado pelo envelope do bizarro e do ilógico.
Estamos confrontados com fusíveis sociais que saltam faz muito.
(fim)
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