Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
Outros elos pessoais
05 maio 2009
Adelino sobre Heliodoro
5 comentários:
Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.
'O GOVERNO!
ResponderEliminar'O PARTIDO!
Garanta que haja lugar ao lado de CRAVEIRINHA!
JUSTICA!
RECONHECIMENTO!
MOÇAMBIQUE – ENCONTRO COM ESCRITORES, II Vol. – MICHEL LABAN (Abril 1998)
ResponderEliminarP. (Pergunta) – E «Recado a um dogmático»? Seria interessante que falasse no problema da moral e do Partido (Frelimo).
H.B. (Heliodoro Baptista) – Não é possível prender as palavras. Fizeram-nos acreditar – e acreditávamos – num projecto de liberdade, na construção de um país em liberdade, de opinião, de associação, em que as pessoas se sentissem livres. No entanto, tentaram prender as palavras. Como e com quê?
Vamos recuar no tempo: no tempo censuravam, prendiam as palavras. É um poema perfeitamente dirigido aos poderes, a este e a muitos outros, todos os regimes e governos.
P. – E a uma certa pessoa?
H.B. – Aqui, a algumas pessoas do Poder. Nomes bem conhecidos, por sinal.
P. – Não havia uma com quem tinha conflitos?
HY.B. – Não uma, mas várias. Entre elas, as que eu considero que, na altura, eram rigorosamente dogmáticas, inflexíveis, frias, maquiavélicas. Se elas vissem que isto aqui era um cinzeiro, diziam que era pedra!
E era pedra para toda a gente!
Isso destruiu muita gente, física e mentalmente. Isso tudo são premonições e avisos. O livro tem essa sequência, no segundo caderno. No primeiro também há o aviso para a independência, mas no segundo caderno do primeiro livro há avisos que depois são constatações que se concretizam no segundo livro.
E eu pergunto: «Não vos dizia o que estava a acontecer?»
P. - «As outras mãos»: poderá evocar esse poema?
H.B. – Um poeta não deve expor-se e explicar assim, mas não vejo qualquer inconveniente em responder-lhe. É uma espécie de sarcasmo ao Poder. Eu diria que entre os elementos do Poder, de qualquer poder, há as mãos de sangue, mas são mãos humanas. É um poema também dirigido, perfeitamente. Não é uma voz pessoal: quando os poemas surgem não pretendo ser o arauto da liberdade das pessoas que não tinham ou têm a liberdade civilizada após a independência. Todavia, penso que reúno, na minha voz, uma voz também colectiva – quando digo colectiva é uma voz de muita gente que não tem voz ou que não sabe ou não pode dizer aquilo que eu disse e estou a dizê-lo.
P. – Pena é que não apareça a indicação dos poemas que primeiro foram publicados separadamente.
H.B. – Saíram no jornal. Eu cito no meu livro: «É estranho que aqui ninguém / soubesse mesmo de nada!», porque as pessoas desculpam-se quando havia os tais cometimentos de coisas que eu considerava graves, ao nível da ilegalidade, da repressão…
Diziam: «Ah, mas isto é apenas uma fase. Depois vamos passar a uma fase em que as coisas vão mudar.»
Ou então: «Não é possível, não acredito!». Isso por fanatismo cego e despudor. São pessoas que depois caíram e estão, dir-se-ia, do lado oposto, hoje.
Se a Frelimo era para eles uma igreja, hoje estão do outro lado, já têm outra religião:
a religião deles é o dinheiro, são os dólares, está a ver?
Desculpam-se com a frustração.
Eu digo que «As mão sábias» são portanto as mãos que vão tacteando o quotidiano, vão ouvindo as vozes das pessoas que não têm voz, mas nós sentimos essas vozes, o sentido dessas vozes, a dor, o sofrimento, a repressão: «…as outras mãos / construirão aqui novas estrelas / nas cinzas do sonho sobrevivente», porque é um sonho…
« - clássico pirilampo / apontando a disponibilidade / de sermos clientes / em qualquer futuro.»
Este poema tem uma data e estamos em Junho de 1992, já é um futuro que não era aquele, e vamos caminhar talvez para a paz.
Quando aqui não era possível falar em democracia!
Democracia era uma palavra sacrílega, demoníaca.
A democracia era só a democracia do Partido!
É preciso que se assumam os erros. É preciso ter coragem para isso, sem tibiezas.
Agora, não arranjem, como ouvimos, bodes expiatórios.
Samora era economista, engenheiro?
Quem fez os projectos? Não foi ele, entende-me?
(p.706/708, extracto)
"...porque nos últimos tempos a quantidade de amigos de Heliodoro não passava de uma palma da mão. Quase ninguém lhe telefonava. Quase ninguém tinha pachorra para ouvi-lo. Digo, dos amigos com que ele privara desde a juventude pouquíssimos tiveram paciência para o acompanhar nos últimos anos."
ResponderEliminarQuantos, hoje, aparecerão a reivindicar-se seus amigos e cúmplices de batalhas?
linda combinacao de dois mundos
ResponderEliminarjokas
PAULA
Carlos Serra,
ResponderEliminarQuero aqui parabenizá-lo pea forma que vem homenageando a memória do recém "desaparecido" Heliodoro Baptista.
Não há Estado que melhor represente uma homenagem que se vê sincera, em um formato simples e em um espaço tão importante e representativo como é o seu blog.
Tenho pena de não ter acompanhado mais de perto, também por estar de facto fisicamente muito longe, a caminhada do Heliodoro Baptista, pois pelas suas palavras e das dos seus "comentaristas" mostra que foi um guerreiro que não lutava por amizades fáceis e sim por valores que lhe poderiam render poucas amizades.
Mais uma vez, parabéns pela sua postura.
E que o Heliodoro Baptista encontre muita boa gente lá por cima.
Zé Paulo