Outros elos pessoais

20 abril 2009

Linchamentos e facto ilícito e culposo

Um leitor do "Notícias" escreveu o seguinte a propósito dos linchamentos: "(...) a ausência total da polícia em particular nos nossos bairros e em sítios de grandes aglomerados, estimula a actividade dos ladrões, fazendo com que estes se sintam impunes ao mesmo tempo que a população, por sua vez, vendo-se desprotegida, vê-se na contingência de se defender. Não há dúvidas que devido ao descrédito da polícia, a população vê nos linchamentos a medida mais certa e provavelmente mais penalizadora para os criminosos. Curiosamente, depois de linchados os criminosos a polícia, essa mesma polícia que por insuficiência dos efectivos, não patrulhava o bairro, não protege a população nas paragens, há-de aparecer fortemente armada, à procura dos culpados. Essa polícia que não conseguiu evitar que os criminosos fossem linchados, há-de vir prender os agitadores. Os que se vendo agredidos queimam os agressores."
Em texto inserto num livro sobre linchamentos recentemente publicado sob minha direcção, o meu colega jurista Paulo Munguambe desenvolveu o tema da responsabilidade do Estado na protecção dos cidadãos. E escreveu: "(...) cada vez mais nos nossos dias sucede que o facto ilícito e culposo causador de danos aos particulares, sobretudo se revestir a forma de omissão, não possa ser imputado a um autor determinado, ou a vários, antes o deve ser ao serviço público globalmente considerado. (...) se um cidadão conseguir demonstrar e provar que um familiar seu foi vítima de linchamento por parte da população e que o Estado estava em condições de poder evitar ou minimizar os danos e não o fez, pode processar de acordo com os critérios acima referidos o Estado e pedir por isso uma indemnização pelos danos sofridos."

2 comentários:

  1. Problema bicudo, complexo, este.

    Mas é bom a existência de obras destas, que encaram o problema abrangentemente e interdisciplinarmente.

    A responsabilidade do Estado, a possibilidade do cidadão o "poder" processar por danos vários,..., quiçá ser indemnizados.

    Indemnização que nunca cobrirá danos irreparáveis. De mal o menos, com se diz.

    Resta saber da possibilidade prática do cidadão poder processar o Estado.

    Longos caminhos hão a percorrer a montante.

    A sociedade civil tem muito para lutar, conquistar,...longos caminhos a percorrer.

    Ou estarei enganado?

    ResponderEliminar
  2. Professor é o que tenho dito a desordem social tem que ter alguma razão de ser e em geral, incluindo Moçambique a ausência do poder é a razão! o leitor do Notícias endaga e muito bem, como é que a polícia não existe na esquina das avenidas Guerra Popular e 24 de Julho nas horas de ponta? porque é que as reclamações populares são sempre classificadas de casos esolados?

    E o leitor vais mais longe ainda, fala da falta de meios, insuficiência de agentes policiais, falta de infra-estruturas prisionais, magestrados, etc. a porca começa a torcer o rabo quando há há disponibilidade de tudo isto na arbitrariedade de prisões dos supostos linchadores!

    O que me deixa parvo é o facto de haver indivíduos que preferem escamonteiar esta verdade só para parecerem, sob alegação de que a verdade escita a violência, eu não acho, apesar de ser desta família...

    ResponderEliminar

Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.