Outros elos pessoais

11 fevereiro 2009

Ionge: populares acusam autoridades de prender a chuva no céu (6)

Mais um pouco desta série.

Escrevi no número anterior o seguinte : "Estamos perante crenças com morfologias diferentes, sem dúvida. E crenças que parecem não fazer sentido sob o prima das mentes severamente cartesianas. Porém, pode acontecer que exista uma mesma lógica à sua retaguarda, um mesmo fim condutor. E pode acontecer que as crenças façam sentido para quem as tem."
Onde pode ser encontrado esse fio condutor para fenómenos de crença com morfologias diferentes como o chupa-sangue, o comando mágico de leões, a cólera assassina ou a prisão deliberada da chuva no céu?
Creio que o "Notícias" de há dias tem a resposta, ao reportar a intranquilidade social surgida na Zambézia com a crença de que o Estado prendeu a chuva no céu, intranquilidade saldada em "três mortos, doze feridos, vinte e cinco casas queimadas, cento e três pessoas desalojadas, infra-estruturas sabotadas e doze cidadãos detidos."
Então, o fio condutor radica na crença de uma privação e expressa de forma inequívoca a percepção de que a riqueza se obtém à custa dos pobres.
(continua)

1 comentário:

  1. 1. Como bem sabe não se trata de um fenómeno novo. Muito frequente no litoral, pelo menos entre Pebane e Pemba.

    2. É verdade que ao longo dos anos os salineiros têm vindo a ser os principais acusados de recorrerem a curandeiros que têm o poder de "travar" a chuva, para, obviamente, daí retirarem vantagens económicas.

    3. Também são frequentemente acusados de recorrer aos tais curandeiros especializados em "travar" a chuva, os camponeses que se atrasaram a preparar as terras e por isso têm interesse em que chova mais tarde, etc., etc.

    > Em regra, são acusados de recorrer aos serviços de CURANDEIROS especializado em "travar" a chuva, aqueles que possam ter benefício no atraso das mesmas, ou, simplesmente, aqueles que em tempo de seca vivem folgadamente. (aqui entra a componente inveja...)

    4. Perante a perspectiva de um ano de carência de alimentos, de sofrimento, em regra, os primeiros alvos da ira, do desespero das populações, são os Curandeiro (os especializados nesta arte) e só esporáricamente os que a eles recorrem (os beneficiários).

    5. Este é o mundo em que vivem muitos, muitos de nós, um mundo de subdesenvolvimento, de ATAVISMO.

    6. Só há uma maneira de sair desta situação: desenvolver o homem!

    > No meu entender, o maior responsável por tamanha miséria humana é, sem dúvida, o Estado e seus sucessivos governos.

    MA

    ResponderEliminar

Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.