Outros elos pessoais

01 novembro 2008

Sociologia (3): a beleza feminina não existe em si (continua)

Vamos lá de novo ao tema da beleza feminina, com mais algumas ideias, notas, hipóteses.
Como reparásteis, tornei sinónimos feminilidade e beleza. Sei que não é correcto, apenas vos peço que aceiteis a subversão dos significados até ao momento, mais à frente, em que eu procurar explicar que a feminilidade é um percutor social e androcêntricamente colado na beleza feminina, um adicional no molde da construção masculina da mulher.
Escrevi, no número anterior, que, independentemente do prisma pelo qual nós, homens, analisemos a feminilidade - a beleza da mulher social e grupalmente considerada - , o que está em causa são quatro coisas:
1. A feminilidade não existe em si.
2. Ela é socialmente construída.
3. Ela é masculinamente construída.
4. Ela é femininamente aceite porque masculinamente construída.
Existe uma mulher feminina em si? Uma mulher bela em si? Com a beleza armazenada em si ab initio? Resposta: não. Aquilo que nela consideramos beleza (em suas múltiplas facetas), aquilo que, consoante tradições, grupos, história, etc., chamamos beleza, isso depende da interacção social, do conjunto de atributos sintetizadores elaborados pelos homens e aceites e reproduzidos pelas mulheres. Não é do foro social das mulheres agradar às mulheres, mas aos homens. Então, a beleza feminina é um produto masculino, é uma gramática masculina que contém as regras pelas quais se regem as mulheres no uso que fazem do seu corpo em função do uso que os homens querem que elas façam do seu corpo. A retranscrição social da biologia feminina: eis a questão. A beleza feminina - produção eminentemente masculina - é socialmente aprofundada e inscrita nos valores socialmente aceites por um segundo atributo: o da feminilidade. A produção da mulher enquanto feminina, enquanto evacuada da força (frágil, fina, elegante, etc., como a modelo nigeriana da foto), da masculinidade bruta, é uma obra masculina aceite, reproduzida e protegida pelas mulheres. Dizer que ela é muito feminina quer dizer que ela é muito mais do que uma mulher bela: ela é androcêntricamente, irremediavelmente construída como feminina. Pausa.
Nota: imagem reproduzida daqui.

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