Outros elos pessoais

22 novembro 2008

Dhlakama é um líder moribundo? (3)

Vamos lá prosseguir um pouco mais esta série.
Uma tese forte desde já: sem Dhlakama a Renamo actual desintegra-se. Esta é uma tese que, naturalmente, contraria a de muitos leitores deste diário, leitores que entendem que o Grande Chefe deve ser substituído para que surja uma Renamo moderna e capaz de fazer frente à Frelimo.
Mas vamos, por agora, deixar esse tese provisoriamente na penumbra e avancemos.
O presidente da Renamo é um ex-líder guerrilheiro, general de quatro estrelas como ama recordar. Formou-se numa tradição de guerra, de autoridade nascida de feitos guerreiros, de mentalidade castrense, na disciplina das ordens, na obediência cega dos guerrilheiros, na justiça definitiva das espingardas. Foram seus feitos de chefe guerrilheiro que lhe valeram o aplauso e a fidelização dos companheiros. O seu carisma construiu-se com o espírito cego das casernas móveis da savana e da montanha, no método das emboscadas, no autoritarismo imediato, na ordem dada e instintivamente obedecida, no calor destrutivo das metralhadoras. Ele é o Grande Chefe que apenas exige obediência, a sua lei é a do arbitrário, do extra-quotidiano, do novo decisional dos momentos. A sua regra não é "a lei diz isto e portanto deveis obedecer", mas "eu digo isto e portanto deveis obedecer".
É esse quadro de carisma guerrilheiro total que é transplantado para a Renamo quando esta deixa as matas e procura converter-se ao mundo das normas e das leis civis, quando passa da surtida fulminante ao campo aberto das regras da civilidade, das normas da AK-47 às normas da discussão cidadã, dos camuflados aos fatos e gravatas. A Renamo de 1992 é uma organização militar sem intelectuais orgânicos no sentido clássico (produtores de uma teoria sistemática de ideais, objectivos e fases*), uma Renamo quase integralmente gerida por chefes guerrilheiros. O seu âmbito de acção não passa pela persuasão, mas pela ordem e pela obediência cega.
*Nota: não me parecem suficientes os exemplos de intelectuais urbanos do tipo Raul Domingos ou dos intelectuais rurais do tipo régulos ou curandeiros.
(continua)

4 comentários:

  1. Um pouco fora do contexto deste poste mas uma resposta a Guiry no post 2 do mesmo tema.
    Há uma coisa que há cinco anos, um amigo me dissera e eu não acreditava. Afonso Dhlakama é imprevisível. Num momento ele pode manifestar atencão dos seus assessores, manifestar humildade e tudo aquilo que é positivo para um líder, mas noutro momento ele pode ser um indivíduo totalmente diferente. Hoje dou muita razão ao tal amigo, veja que desde 2005 ele manifestou publicamente essa sua postura. Os mocambicanos já o conhecem bem.
    Eu acho que o que ficou para ele próprio, para os renamistas e para a sociedade mocambicana em geral é como honorificá-lo e para tal, ele, AFONSO DHLAKAMA, devia demitir-se já do cargo de presidente, assumindo a culpa pela derrota da Renamo nestas eleicões.

    Prof. Serra a sua nota é importante para reflexão. Com apoio do livro de Paulo Barbosa podemos explorar a causa de inexistência de intelectuais urbanos. No livro há nomes muito interessantes.

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  2. Concordo. É um lider para uma outra situação. Hoje é obsoleto, ultra.passado

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  3. Afonso Dlakhama é mesmo assim como o descrevem!

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  4. Um amigo meu disse-me que Dlakhama se encotrava em Quelimane por estas alturas da campanha ou das eleições não percebi bem, e que o seu voo de regresso a Maputo fazia escala na Beira o que fez com que o líder da perdiz mudasse a viagem para um voo directo para Maputo

    De que se escondia Dlakhama?

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