Prossigamos a série com mais algumas ideias.
Analisar comportamentos eleitorais parece ter a simplicidade das sopas de pacote e, portanto, a limpidez das compreensões instantâneas: votou-se no partido A ou na pessoa B porque se gosta deles, porque a nossa mobilização foi bem sucedida, porque o povo está connosco, porque a zona C não é nenhum bastião do partido D mas do partido E, porque as campanhas de educação cívica funcionaram bem, etc., etc. Porquezar a vida dessa maneira é necessário e útil, sem dúvida.
A mentalidade analítica sopa de pacote funciona regra geral no sentido de destituir os cidadãos votantes da sua autonomia, atribuindo às virtudes e aos méritos de forças externas a sua capacidade de acção. Reside aqui a força simbólica das entidades sobre-humanas que criamos e reproduzimos.
Todavia, a análise eleitoral exige a entrada em jogo de um esforço maior, de múltiplos factores.
Por exemplo, o actor Y pode votar conscientemente, pode ser e é ele mesmo, irredutível a outros. Contudo, ao mesmo tempo, ele é, está a ser outras coisas, é a família, é o grupo social, é o bairro, é a comunidade, é o peso dos produtores locais de opinião abalizada ou autorizada, é o momento, é a escolaridade, é o bem-estar ou é o mal-estar, é a pressão social, é o conjunto das rivalidades locais, é a cidade, é o campo, é a a capacidade de independência de pensamento, é a ameaça, é o medo, é o peso das tradições, etc., etc.
Deixemos isso por agora.
No campo do multiplicidade factorial vou considerar dois tipos de influência na tendência dos votos na Beira: as influências políticas claras e as influências políticas contraditórias.
As influências políticas claras são aquelas que, porque em sintonia com as aspirações dos eleitores, com o agregado motivacional dos eleitores, com a realidade que eles diariamente vivem e analisam, os levam a votar conscientemente num determinado candidato ou num determinado partido.
Todavia, porque tendendo a conduzir indivíduos ou grupos em direcções opostas, as influências contraditórias são aquelas que paralizam as aspirações dos eleitores, os deixam divididos e os levam ou a abster-se de votar ou a votarem de uma maneira pouco usual. Os votos em branco e os votos nulos são, muitas vezes, efeitos das influências contraditórias.
Bem, não estou certo de que aquilo que escrevi possua coesão lógica. Tentarei reverificar tudo mais tarde.
(continua)
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