
Jogos de futebol (dos quais vos falei no número anterior), espectáculos musicais de massa, comícios, paradas militares e exposição de poderio policial são, naturalmente, coisas diferentes.
Mas todos esses fenómenos possuem, em sua densidade sensorial, quinestésica, um mesmo fio condutor: um elevado coeficiente de amortecimento da consciência crítica. São, na verdade, analgésicos poderosos.
Nos comícios políticos, por exemplo, o fundamental não é o que está a ser dito, o que está a ser proposto, mas o espectáculo em si, a actuação espectacular do líder hipnotizante e carismático falando durante horas seguidas num culto profano. Em momentos eleitorais, o comício pode casar-se com o espectáculo musical, ampliando-se, desta maneira, o poder irradiador do soporífero.
As paradas militares e a exposição do poderio policial são outras manifestações nas quais o alerta e de intimidação aparecem transfigurados em espectáculo imponente, ritualizado. Uma cidade como São Paulo, por exemplo, é um documento excepcional de poderio policial transformado em espectáculo em si, com o seu roncante mundo motorizado de todos os tipos, com a impressionante panóplia de instrumentos punidores exibidos pelos polícias.
Todos esses exemplos de espectáculo nos quais Capital e Estado se dão mãos, são, afinal, como que uma mensagem sexualizante, compensatória, destinada a permitir um alto grau de prazer viril.
Nota: talvez regresse ao tema num destes dias.
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