Vamos lá avançar mais um pouco.
Quando da luta de libertação nacional, Joshua Nkomo (à direita no foto) foi companheiro de armas de Robert Mugabe (à esquerda). Em 1980, ano da independência do Zimbabwe, Nkomo (à testa de um movimento guerrilheiro chamado ZAPU) apareceu com um líder alternativo a Mugabe, tendo a Matabelândia (sul e oeste do país) como sua base de apoio. Durante cinco anos, ZANU e Mugabe lutaram contra Nkomo e ZAPU ("ZAPU e Nkomo são cobras e as cobras precisam ser destruídas - afirmou Mugabe), acabando os primeiros por sair vitoriosos em duas fases: primeiro, com o envio para a Matabelândia da quinta brigada militar, treinada por norte-coreanos, do que resultou a morte de milhares de apoiantes de Nkomo, cujos corpos foram enterrados em valas comuns, numa operação que ficou conhecida como Gukurahundi; segundo, conseguindo que Nkomo e ZAPU aceitassem partilhar o poder, fundindo ZAPU e ZANU, daí nascendo a ZANU-FP (PF=Frente Patriótica) e ficando Nkomo como vice-presidente do Zimbabwe, mas sem qualquer poder.
Assim se deu o fim político da ZAPU e de Nkomo. O ex-líder da ZAPU exilou-se em Londres em 1983, tendo morrido de cancro da próstata em 1999, ano em que, ironia da história, foi declarado herói nacional do Zimbabwe pelo regime de Mugabe.
São essa história e essa "partilha de poder" que sobrevoam em permanência, como maus espíritos premonitórios, os ares das negociações tendentes à formação de um "governo de unidade nacional" entre a ZANU-PF e a ala MDC de Morgan Tsvangirai. Quer Mugabe quer Tsvangirai conhecem a história e a anterior "partilha". O primeiro quer repeti-las, o segundo não quer ser o segundo Nkomo.
Prossigo no próximo número.
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