Outros elos pessoais

22 março 2008

Ritos de iniciação à violência (3) (prossegue)

Prossigo esta série, na qual escrevo sobre a violência violenta, não sobre a violência doce.
Prosseguir esta série é estarmos dentro da economia política da violência em geral e da punição em particular, é estarmos dentro das tecnologias de punição e dor, é estarmos no interior da liturgia dos corpos maltratados - seja em parte, seja no todo pela morte -, é penetrarmos em todo o complexo mundo da colonização dolorosa da nossa parte física e, também, é penetrarmos no aguilhão psicológico que pode ficar - e certamente fica - em muitos de nós.
Julgo ser importante recuar ainda mais no passado.
Quem estuda a história colonial em Moçambique, quem viveu na era colonial, sabe que a palmatória era o instrumento-tipo da punição administrativa, a cargo de administradores, chefes de posto, régulos e cipaios.
Sabe, também, que a palmatória (a famosa régua dos cinco olhos) usava-se mesmo nas escolas. Um caso pessoal: em 1956, eu apanhei repetidamente nas duas mãos na Escola Baptista Coelho de uma severa professora pelo facto de ter chegado atrasado à aula. Fiquei com as mãos inchadas, devo confessar que chorei, que me doeu imenso. Nunca mais esqueci isso. Nem esquecerei.
Nunca ninguém em Moçambique fez o saldo psico-social, estudou as sequelas desses variados processos no pós-independência. Todavia, os trabalhos psiquiátricos de Frantz Fanon contêm, a esse respeito, importantes ensinamentos na era colonial na Argélia.

3 comentários:

  1. > Citando Aurélio Rocha (in Africa Austral, o Desafio do Futuro, IEEI)

     “… a subestimação do peso e da importância das forças sociais activas que se encontram dispersas pelo mundo rural, integrando grupos socioculturais com línguas, crenças, relações de autoridade e parentesco, modos de produção e estruturas económicas, formas sociabilidade, em suma, instituições próprias. “

     “ Estas forças viram-se assim confrontadas com o centro do poder, onde se encontram novos grupos sociais, herdeiros do processo colonial e das instituições por ele criadas, assumindo novos valores culturais quer na forma organizativa do Estado quer no comportamento face ao poder.”

    > Uma amálgama de questões a resolver!

    Um Abraço
    FM

    ResponderEliminar
  2. Obrigado pelo comentário. Prosseguirei a série ainda hoje.

    ResponderEliminar
  3. A famosa régua dos cinco olhos usava-se em todas as escolas, do Minho a Timor.

    Era uma marca do autoritarismo da época.

    E o rabo de raia (poderia ser também o cavalo-marinho-chicote)foi usado no Colégio dos Maristas na cidade da Beira, que o Prof. conhece.

    Era fruta da época.

    ResponderEliminar

Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.