Yá-Qub Sibindy: Frelimo engendrou as manifestações

As páginas 4 e 5 do Domingo" de hoje são muito interessantes. O semanário ouviu políticos sobre as causas das manifestações a partir de 5 de Fevereiro e divulgou um trabalho com o título "Políticos em pingue-pongue" e antetítulo "A propósito dos tumultos que varreram o país". Para o secretário da área de Mobilização e Propaganda da Frelimo, Edson Macuácua, é evidente que as manifestações não foram expontâneas e tiveram uma mão externa política destinada a criar o caos; para o presidente do PDD, Raul Domingos, as manifestações foram populares, mostraram apenas a ponta do iceberg e comprovam que o estado da Nação não é bom; para José Palaço, presidente da Frente Patriótica, as manifestações mostram uma juventude em situação social má e por isso frustrada, tendo o governo ignorado os pré-avisos que circulavam e as informações dos serviços secretos; finalmente, numa surpreendente postura em sua versão da mão externa, para o presidente do Pimo, Yá-Qub Sibindy, as manifestações não foram organizadas pela oposição (nenhuma força da oposição tem capacidade para mobilizar o povo - afirmou) mas sim pela Frelimo e devem ter à retaguarda a mão dos serviços secretos no sentido de "travar a arrogância das instituições de Bretton Woods que têm vindo a fazer imposições insuportáveis ao Governo de Moçambique no prosseguimento da sua política económica" (p.5). Curiosamente, ninguém da Renamo foi ouvido.

Comentário: a tese da mão externa de Sibindy é, afinal, um elogio à Frelimo pela negativa aparente. Mostra o partido preocupado com o povo e por isso mesmo pretendeu protegê-lo accionando - garante Sibindy - as manifestações para mostrar ao Banco Mundial e ao Fundo Monetário Internacional que esse povo merece respeito. O tema dos custos sociais provocados pelas políticas das instituições de Bretton Woods encontra-se também aqui.