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Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
Outros elos pessoais
06 janeiro 2008
Gorane responderá à Sónia e ao Geraldo
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1 comentário:
Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.
O regresso às origens!
ResponderEliminarEm determinadas latitudes, de quando em vez, surgem vozes que exaltam o regresso ao passado. Sim, ao passado précolonial. São os reconstituidores da história da humanidade e de África em particular.
São os investigadores da última geração, de topo de gama. São os iluminados do século XXI!
Para estes, queria recordar um episódio narrado por Basil Davidson:
“Há cerca de um oito décadas, numa clareira da floresta congolesa, um belga estava sentado no chão a tomar notas. Este belga, cujo nome era Emil Torday, considerando o tempo e o lugar, era um homem de tipo pouco usual, um tipo estranho de europeu, pois o que ele buscava ali não era nem borracha, nem marfim, nem trabalho escravo; o que ele procurava era informações acerca do passado “
B. Davidson é um estudioso de África. Escreveu sobre África e os africanos, ao sul do Sara, incidindo sobre os mil e quinhentos anos anteriores ao inicio da época colonial. Apresentou em esboço o que hoje se conhece, e o que hoje parece razoável acreditar, acerca de certos aspectos da vida e da civilização africana durante esse período, contribuindo assim para uma melhor compreensão das origens e das raízes da África de hoje.
Esta breve introdução, surge a propósito das posições de alguns cidadãos que se refugiam num passado que mal conhecem, para fundamentar a sua alergia a concepções politicas que lhes provocam um permanente mal-estar.
Compreendo, embora não concorde, o conservandorismo que muitos manifestam desde as independências. Compreendo , mas não concordo, que nunca tenham erguido a voz ante a presença do opressor. Compreendo, mas não concordo, que questionem o talento de intelectuais e revolucionários africanos como Nkrumah, Mandela ou Amilcar Cabral.
Se calhar não compreendo porque nenhum cientista em África, digno desse nome, teve a ousadia de apelar para a rejeição das ciências biomédicas e regressar exclusiva e definitivamente aos velhos métodos da terapia africana. O mesmo se passa noutras ciências e noutras áreas.
Passa pela cabeça de alguém entregar o ensino, a divulgação, a aplicação e a gestão do Direito a chefes tradicionais? Poderia desfilar um infindável cortejo de exemplos.
Porquê, então acossar a politica? Porque fazer dela uma excepção e um convite permanente para a sua reinvenção em termos africanos?
Os maus politicos, os déspotas e os corruptos, são a armadilha, o pretexto, para justificar um apelo a um nacionalismo exacerbado?
Não resisto a citar Clemente Zamora:
“Enquanto Roma e os povos latinos exerciam a hegemonia no mundo, os anglos e os saxões eram povos primitivos e bárbaros. Uns séculos mais tarde, Roma desaba, e os povos germânicos assumem a direcção mundial. Os povos, contudo, não tinham mudado: os romanos continuavam sendo latinos e os bárbaros continuavam sendo germanos”
A reinvenção da linguagem – democracia africana, democracia árabe – é uma derradeira tentativa de enganar os menos informados e protelar, ainda mais, o despertar de uma verdadeira consciência que reclame que não há verdadeira democracia sem progresso social.
Talvez fosse preferível esquecer o termo "democracia" e falar bastante mais de "democratização", entendida como um processo sem fim” diz-nos Samir Amin
Por seu turno, os contorcionismos da burguesia, de todos os continentes, têm como suporte o carácter desinformativo e anestesiante da propaganda ao seu serviço.
Termino com Marta Harnecker, “devemos procurar mostrar que a politica não é arte do possível, mas a arte de construir a força social e politica capaz de mudar a realidade, tornando possível, no futuro, o que hoje nos parece impossível”