As mechas não são um fenómeno natural no país, como o não são em qualquer país africano: elas têm o sinete de um social modificado, de uma reestruturação corporal, tatuam no couro cabeludo das nossas raparigas o selo vivo e em constante transformação da diferença, da individualidade (mas também da pertença de grupo), da feminização. Sendo uma ruptura com a tradição, as mechas são já, também, a tradição de uma nova história que se faz num duplo, denso e permanente compasso: (1) nas longas sessões de montagem e desmontagem, seja em ambiente familiar, seja nos cabeleireiros profissionais (e aqui faz-se a revisão feminina da vida, das coisas que combustibilizam os dias, os lares, os quartos de amor ou desamor, os grupos, os locais de trabalho e de lazer) e (2) nos locais de exibição da individualidade (e aqui compara-se, choca-se ou adere-se, põe-se em campo o jogo das seduções, desembraiam-se as rotas da amizade, da conquista e da afirmação). A história não se faz apenas com papéis velhos: também se pode fazer com cabelos novos e sintéticos. Esta curta série é apenas uma primeira, incipiente reflexão para um trabalho de pesquisa que tenciono levar a cabo este ano (foto reproduzida daqui).Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
Outros elos pessoais
07 janeiro 2008
As mechas em Moçambique (1)
As mechas não são um fenómeno natural no país, como o não são em qualquer país africano: elas têm o sinete de um social modificado, de uma reestruturação corporal, tatuam no couro cabeludo das nossas raparigas o selo vivo e em constante transformação da diferença, da individualidade (mas também da pertença de grupo), da feminização. Sendo uma ruptura com a tradição, as mechas são já, também, a tradição de uma nova história que se faz num duplo, denso e permanente compasso: (1) nas longas sessões de montagem e desmontagem, seja em ambiente familiar, seja nos cabeleireiros profissionais (e aqui faz-se a revisão feminina da vida, das coisas que combustibilizam os dias, os lares, os quartos de amor ou desamor, os grupos, os locais de trabalho e de lazer) e (2) nos locais de exibição da individualidade (e aqui compara-se, choca-se ou adere-se, põe-se em campo o jogo das seduções, desembraiam-se as rotas da amizade, da conquista e da afirmação). A história não se faz apenas com papéis velhos: também se pode fazer com cabelos novos e sintéticos. Esta curta série é apenas uma primeira, incipiente reflexão para um trabalho de pesquisa que tenciono levar a cabo este ano (foto reproduzida daqui).7 comentários:
Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.
Espero ansiosa a continuação.
ResponderEliminarAguardo ansiosamente os resultados de todas as suas promessas de pesquisa. Já são várias, Professor!
ResponderEliminarSara: são apenas algumas notas canhestras, para começar. Lá para o fim do ano deverei apresentar alguns resultados. Quanto ao anónimo: a vida é assim, "promesseira".
ResponderEliminar> As nossas mulheres ficam lindas com suas mechas, pinturas e outros ornamentos .... são um regalo para o nosso sentido da Vista.
ResponderEliminar> Porém, quando fechamos os olhos e damos rédea livre ao Tacto ... prefiro de longe a maciez de seus cabelos bem tratados...
>FM
FM, perversa restrição! Existe sempre macieza em qualquer mulher. Não é ela poesia de Deus, como escreveu o poeta?
ResponderEliminar> Como alguém disse: " a mulher é o Domingo do homem"... com ou sem mechas.
ResponderEliminar>FM
E a sexta-feira o martírio das mulheres...
ResponderEliminar