Outros elos pessoais

24 dezembro 2007

O estado da Nação

Perante um obstáculo, a linha mais curta entre dois pontos pode ser a curva (Bertolt Brecht)
Na psicologia, Freud mostrou que nem tudo em nós é consciente; na astrofísica, Einstein mostrou a relatividade da simultaneidade (esta não pode ser demonstrada, pode apenas ser definida); na mecânica quântica, Heisenberg e Bohr mostraram que qualquer medição implica a interferência de quem mede; na matemática, Gödel mostrou, pelo seu teorema da incompletude, que há preposições que não se podem nem demonstrar nem refutar.
Ora, perante a defesa de que "o estado da Nação é bom" ou de que "o estado da Nação é mau", como é possível evitarmos o bom senso da dúvida ou da curva de Brecht ou do meio termo tão caro aos defensores almofadados do fim da direita e da esquerda?

5 comentários:

  1. Professor,
     Alguém disse um dia “De pouco serve um PIB a crescer, uma inflação a descer, uma moeda estável, se esquecermos o homem. Se nos revelarmos apenas consumidores, individualistas, carreiristas, egoístas. Corroídos pelo cifrão.”

     Dominamos os meandros da Macroeconomia, sabemos jogar com as estatísticas para agradar ao FMI e WB. Conseguimos o milagre da nossa moeda se apreciar em relação ao dólar, o que equivale a dizer que temos uma economia mais competitiva que a do Tio Sam.

     Com tal capacidade tornámo-nos isco dos megaprojectos, considerados âncora para outros investimentos… com enorme capacidade de negociação, ao ponto de nos quererem fazer acreditar que devemos contentar-nos com o prestígio dos seus nomes: (i) para nós: os efeitos cosméticos (grandes infra-estruturas); (ii) para eles, os resultados económicos.

     Uma vez dominado o mundo virtual da Macroeconomia, é tempo de olharmos para dentro, para o mundo real. Como podemos aparentar tão rija saúde, quando dia a dia são mais visíveis TUMORES tão malignos como: (i) profanadores (ii) esgaravatadores de contentores de lixo; (iii) dementes vagueando sem apoio; (iv) linchamentos; (iv) impunidade… etc., etc.

     Festas Felizes para todos. Que 2008 nos traga mais capacidade crítica, para que possamos concentrar-nos mais na resolução dos problemas reais, e menos nos arranjos cosméticos.

    Um Abraço
    Florêncio

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  2. Mas, Florêncio, a minha tentativa de doce toque irónico não me fará nunca esquecer o que escreveu e o seu quarto parágrafo. Forte retribuição.

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  3. O que muitos de nós não devemos esquecer é que, nos princípios da década de 90 este era um país estagnado, inviável, muito próximo da somalização ou da zairização. Hoje, Moçambique pode apresentar alguns resultados apetecíveis, que o tornam destino privilegiado de investidores, sérios e outros que nem tanto

    Mesmo em termos de pobreza visível, observável a olho nú, Moçambique de hoje é bastante diferente do Moçambique de há 17 ou 20 anos atrás. Isto que estou a dizer significa que, como país, podemos sentarmo-nos à sombra da bananeira? NÃO! O equilíbrio macroeconómico deve impelir-nos a olhar para a economia a para a sociedade real como diz Florêncio.

    E eu já não estou a pensar apenas nas pequenas e médias empresas industriais urbanas que criam uns quantos empregos nas nossas cidades; estou a pensar no nosso país como um todo.

    Um país em que os nossos camponeses têm assistência técnica do Governo para aceder a novas e sustentáveis tecnologias agrárias. Um país com herdades agrícolas e pecuárias mais produtivas. Um país em que os camponeses têm acesso a mercados.

    Creio que vamos a tempo de ver a florescer em todo o nosso país milhares de unidades de agroprocessamento. Tudo isso criaria não milhares de empregos, mas sim milhões de meios de vidas sustentáveis a viáveis para o nosso povo.

    A auto proclamada Esquerda não possui o monopólio do desvelo pelo bem estar de Moçambique. Ninguém tem a fórmula da felicidade do nosso povo. Todos nós juntos, no debate salutar de ideias podemos ir encontrando e, simultaneamente, corrigindo caminhos.

    É com estes sonhos que quero desejar Felizes Festas a todos os que se encontram neste blog.

    Obed L. Khan

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  4. Caro Obed,
     Estou de acordo quando, frequentes vezes, realças a necessidade de não nos fixarmos nos aspectos negativos da governação – precisamos também de saber evidenciar e ter orgulho no que de bom também se faz. E faz bastante!
     Contudo, entendo que devemos de ter os pés assentes na terra quando fazemos comparações entre a situação de bem-estar actual e nos anos 1980/92 – são situações não comparáveis.
     Muitos de nós estão recordados que, durante o conflito Renamo/ Frelimo, vivemos acantonados nos centros urbanos: deslocávamo-nos em coluna de Maputo para Namaacha, Marracuene ou Xai-xai; de Nampula para Nacala; de Pemba para Montepuez; de Tete para o Songo, etc., etc. A economia quase paralisou. A desestabilização no meio rural afectou a produção e a carência alimentar foi notória em muitas partes do país. Entre 1983 e 1985 o nosso nível de bem-estar bateu no fundo: foi o período do carapau e do repolho.
     Com a adesão ao FMI e WB em 1986 e o PRE em 1987 invertemos a tendência, as torneiras da ajuda externa abriram-se. Foi uma lufada de ar fresco para os centros urbanos. Mas a produção alimentar faz-se no campo e, as estradas – artérias de qualquer economia – continuavam intransitáveis.
     A mudança, a nova era, veio efectivamente como o Acordo de Roma: as estradas abriram-se à circulação de pessoas e bens; os mercados rurais foram invadidos de roupa em segunda mão, a nudez reduziu e, com os parcos meios disponíveis a população rural empenhou-se na produção – a economia ressurgiu.
     De lá para cá tem faltado, essencialmente, políticas económicas realistas de integração da economia rural num mercado com regras. Podemos continuar a fazer mais e melhor.

    Um Abraço
    Florêncio

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  5. Um abraço, Florêncio. Feliz natal a próspero ano novo.

    Obed L. Khan

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