para a Lura, que me entende,
crioulamente
Negra me sou. Me nasci sempre assim.
Como o chocolate de cacau, sim.
Mas me apontam os seios e as ancas:
“arre!, que bela preta, que coxame!”
Num tão silêncio de nadas
pedir, não me magoo a voz.
Intrusas flexões entendo
de uma língua que resguardo
como um tal Camões a namorou
e, infactível, me pediu, até chorou.
Sou-me negra. De cacau, pois assim.
Mas já dispensei a perlada catinga
e meu sexo negro é limiar redutor
dessas míseras fatias de esmola
de um quadro vindo, a levedar,
por séculos de idílios semânticos, no chão.
Me ergui e neste corpo se indo-se
é vosso o espanto e o meu, rindo-se.
Negra me sou como mulher?
Me ame a quem me colher!
Heliodoro Baptista
Lisboa, Porto, 1991
professor! faltam os quadros do dunduro, a musica do madala e mazembe e poemas de adelino timoteo,assim a beira esta representada no blog.
ResponderEliminarJá tenho numa boa amostra dos quadros e do perfil do Dunduru, devo começar hoje a divulgar, tal como já anunciei em outra postagem. Quanto aos outros espero poder obter. Adelino conheci um dia na ex-livraria do Helio.
ResponderEliminarA Beira ainda vai parir bons poetas. Disso tenho certeza.
ResponderEliminarConvivi com o H.B. nos últimos dias, comíamos, bebíamos e fumávamos poesia. Nesse ócio, entendí que ele pretendia criar uma espécie de "sociedade de poetas". Poetas não só escritores (ou que nem o fossem), mas que comungassem na mesma homilia.A morte levou muito cedo o seu corpo. Premonitoriamente já cantava o silêncio do seu corpo.
O Adelino deixa a Beira, com muita pena, mas aquela é uma terra que nunca se deixa, mesmo num recanto húngaro estará pincelando pescadores da Praia-Nova e macenas de seios hirtos vendendo amendoím torrado.
Eu vaticino uma nova horda de escritores a nascerem dos escombros do Grand Hotel!