Outros elos pessoais

19 dezembro 2007

Nosso atum aos desbarato?

Diz o "Notícias" de hoje o seguinte: "O Governo acaba de autorizar a assinatura de um acordo de parceria com a União Europeia, válido por cinco anos, ao abrigo do qual navios daquela comunidade vão capturar anualmente dez mil toneladas de atum em águas nacionais. Esta actividade, segundo dados tornados públicos ontem em Maputo, no final da XXIV sessão ordinária do Conselho de Ministros, vai render ao Estado uma receita anual na ordem dos 900 mil euros, a serem aplicados no desenvolvimento do sector das Pescas."
Ora, o meu correspondente em Paris, o Ricardo, coloca a seguinte questão: "Acho que Moçambique vende barato à UE os direitos pesca do seu atum. O que é que os nossos patrícios acham? No mercado central de Tokyo (Tsukiji), um atum de 1.ª qualidade é leiloado rápido a cerca de 7000 dólares US. Atum menos top pode atingir 5000 dólares. O record de preço por um atum, nesse leilão que tem lugar diariamente, foi de 173000 dólares, há cerca de seis anos atrás. A notícia apareceu nos grandes jornais de todo o mundo. E sabe quanto é que custa um pedaço de atum de 1.ª (tamanho de uma caixa de fósforos) num bom restaurante em Tokyo ? Cinco dólares US (120 meticais)!"

16 comentários:

  1. esta noticia deixa muitas areas em penumbra. parece-me aqui que o governo pretende festejar "vitoria" muito cedo. A cultura de festejar "a possibilidade de". ha dias vimos o ministro pelouro das pescas, em evasivas sobre o controle e organizacao da actividade pesqueira, quer industrial, quer artesanal em agura nacionais. a guerra que os pescadores portugueses, espanhois, gregos, tem feito para desbloquer os sistema de quotas ainda vai muito longe, e fazer-mos um acordo sem esperar para ver a reforma anunciada sobre a politica e os financiamanetos a agricultura e pesca comum europeia, parece um erro estrategico, que vai-nos custar caro. os chineses e companhia ja andam aqui na costa, e com sinais de baixa intensidade somos avisados que vem ai uma crise na captura do camarao e outros pescados.
    Ha problemas estruturais que o governo nao descutir sobre a nossa politica de exportacao, para o mercado europeu. os factos mostram-se preocupantes, em relacao ao acesso ao mercado europeu, ha dias os polacos, checos, disseram nao ao fim dos subsidios a agricultura europeia, e a questao de revisao de quotas que possam favorecer os grandes e exportadores africanos. entao, os europeus estao a vender presentes envenenados, em relacao a acordos de parceria e acesso a mercado europeu.

    nao sao as nossas florestas que poderao estar a saque, o nosso mar tambem esta. e nao sao so os "garimpeiros civilizados" que andam por aqui. o que os tanzanianos, mauricios, kenianos, estao fazendo na nossa costa norte, nao e brincadeira nao.

    ResponderEliminar
  2. Novecentos mil Euros pela captura de 10 mil toneladas ano, representam uma receita para o Tesouro nacional de 3,24Mt/Kg.

    Será um preço justo? Poderá ou não representar uma contrapartida de Moçambique à EU por apoios recebidos ou em perspectiva no futuro? Faltam-nos dados para uma análise global.

    Porém, 900.000Euros = 1.300.000 USD = 1 Cahora Bassa por ano.
    JC

    ResponderEliminar
  3. Qual a opinião do Eugénio Chimbutane?

    ResponderEliminar
  4.  JC … o seu termo de comparação é interessante, mas … estamos a falar de 900 mil e NÃO 900 milhões de Euros/ano.
     Três zeros à direita do primeiro dígito, faz uma tremenda diferença.
    Um Abraço
    Florêncio

    ResponderEliminar
  5. Que negocio estranho? Dez mil toneladas de atum (1t = 1000 quilos) são dez milhões de quilos. O preço médio do atum congelado neste ano segundo o Departamento de Pesca do Japão foi US$ 26(landed)por quilo. O que significa um valor total do negócio de US$ 260.000.000! A margem entre o valor de exportaçãoo e preço de venda na Japão são exactamente US$ 259.100.000! Na prática, os nossos dirigentes e as fábricas flutuantes da UE (sobretudo trawlers espanhóis) esgotam os estoques da costa moçambicana, privando a população local de seu meio de vida. E nossos pescadores são forçados a ir cada vez mais longe mar adentro a fim de encontrar peixes suficientes. Os US$ 900 mil de forma nenhuma compensam os prejuízos e os danos a nossos recursos pesqueiros. Acho um caso de cabritismo maritimo.

    Oxalá

    ResponderEliminar
  6. Dios, que expressão espantosa: cabritismo marítimo!!!!!!!!!!!!!!!!Brilhante! Mas quem está, no Olimpo local, preocupado com o esgotamento e com o drama dos nossos pescadores? Não somos, afinal, orgulhosamente, um país de enormes recursos naturais?

    ResponderEliminar
  7. "enormes recursos naturais" que saqueados como estão sendo não sobrará nada para as gerações vindouras. Mas ai é que está. "Lixem-se" as gerações vindouras.

    ResponderEliminar
  8. > Nelson, levantas uma questão profunda. Muitos de nós transportamos para a gestão da "coisa pública" os valores que defendemos - viver o dia a dia, sacar e comer o mais o possível: as gerações futuras, os nossos filhos, netos, etc., que se desenrasquem.
    > O Desenvolvimento passa, fundamentalmente, pela mudança de atitudes: esta, no meu entender, é uma das que precisamos de mudar.
    FM

    ResponderEliminar
  9. Ao fazerem as contas lembrem-se que, para além da concessão paga pela União Europeia, os armadores terão que arcar com outros custos, antes de colocarem a saborosa lagosta no Japão. Os custos dos armadores incluem combustível que, como sabemos, está sempre a subir.

    Refira-se que, por vezes, a União Europeia negoceia concessões que, entretanto, os seus operadores (armadores) não fazem uso dados os custos de exploração. Lembro-me agora da concessão para a captura da gamba. É tão cara que os armadores europeus não estão a fazer uso da respectiva licensa da concessão.

    Alguns comentários parece estarem a considerar que, paga a concessão, os europeus não têm mais nenhum custo, até colocar o produto no Japão ou em qualquer outro lado.

    Creio que devemos explorar com responsabilidade os nossos recursos. Explora-los de modo a que as gerações vindouras se venham também a beneficiar. Todavia, sentarmo-nos e contemplar a beleza e a abundância desses recursos, sem procurarmos que as gerações presentes deles beneficiem não me parece uma atitude sensata. O que estou a dizer é válido para a totalidade dos nossos recursos. Nós também, as gerações actuais, somos filhos de Deus.

    Obed L. Khan

    ResponderEliminar
  10.  Estou de acordo com o Obed: não confundamos receitas potênciais com lucros. Estes são, sómente, o que resta, depois de contabilizados todos os custos.
    Florêncio

    ResponderEliminar
  11. Caros, Segundo a UE os custos operacionais da frota longínqua de pesca (como arrastões congeladores, atuneiros, e navios de apoio logístico) dos Estados-Membros, incluindo salários, combustíveis, manutenção, amortização do navio e das artes de pesca, e combustíveis) no ano 2005 foram cerca de 45% do valor dos desembarques das frotas. Os gastos pelos impostos e as taxas no mesmo ano foram cerca de 10% deste valor. O benefício operacional líquido de 45% foi dividido entre os proprietários dos barcos (os armadores) e os pescadores (as equipes), geralmente de forma 50:50. Os auxílios e subsídios adicionais da UE pelos armadores ainda não contabilizados. Resumo: 45% de US$ 260.000.000 (do valor dos desembarques de atum) são US$ 170.000.000. E US$ 900.000 constituem um benefício de 0,53% do total deste negócio para Moçambique. Pergunto ao Obed e Florênciouma: Um bom negocio ou um caso de cabritismo maritimo?

    Um abraço de
    Oxalá

    ResponderEliminar
  12. Caro Oxalá,
     Assumindo os seus pressupostos - que não questiono - obviamente que é um excelente negócio para a UE. Julgo que ninguém questionou ou questiona esse facto.
     Admitindo que em negócios, e na vida em geral, “ninguém dá nada a ninguém”, importa saber que outros interesses existem – de Estado, ou outros – para tão magnânimas cedências. Faltam-nos os fundamentos que levaram o Conselho de Ministros a aprovar esta operação.
     Foi útil ficarmos a saber que os custos operacionais nesta actividade rondam os 50% do valor da produção (considerando o incremento do preço dos combustíveis de 2005 a esta data).
    Um abraço.
    Florêncio

    ResponderEliminar
  13. um belo exercicio esta sendo feito aqui. espero que o conselho de ministro tenha feito o trabalho de casa.

    ResponderEliminar
  14. Oxalá deveria partilhar suas fontes para cada um fazer suas contas. Estive ligado, por cerca de 12 meses, a uma empresa de comercialização de mariscos. Os dados que tenho do terreno não conferem com os dados trazidos por Oxalá

    Obed L. Khan

    ResponderEliminar
  15. Os nossos dirigentes nao sao nada mais do que "individualistas". Tenho ate serias duvidas que durante a luta de libertacao, esses individuos estariam embuidos de algum espirito nacionalista ou patriota! E' altura desses senhores perceberem que o pais nao e' sua propriedade e de seus pares! E' altura de se comecar a prestar contas pelas decisoes que sao tomadas em relacao a coisa publica! O que e' que o sr. Feliciano Mata "unico preocupado com as questoes nacionais" tem a dizer a respeito deste absurdo? Apelo a sociedade civil para se insurgir e exigir a revisao desse acordo "pateta"! Respeitavel Prof. Serra, o sr. e' autoridade moral incontestavel dessa perola que tem sido lapidada a "escopro e marreta", apelo mais uma vez que em nome da nacao, faca chegar ao Governo, pelos meios mais convenientes, essa revolta indescritivel que todos nossos patriotas com cerebro, estamos a sentir! E ja' e' altura dos nossos intelectuais (eu usaria o prefixo "pseudo") comecarem a "dar a cara"! Ja' e' a altura das forcas vivas da sociedade porem a boca no trombone e "marcharem" (como diz o Azagaia).

    ResponderEliminar

Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.