Outros elos pessoais

30 julho 2007

Erotismo bloguista em Moçambique (5) (continua)

I
Vamos lá, primeiro, em notas uma vez mais canhestras, ver o velho problema da pornografia. Permitam-me dizer, por hipótese, que a pornografia é a parte feia, baixa, do erotismo. Há pornografia quando o sexo (enquanto órgão e enquanto actividade) é destacado e coisificado, no todo ou em partes, naquilo que a moral considera como aberrante, indecoroso, feio. O corpo da pornografia seria assim um pouco com a carne no talho: adquirimos as partes que queremos, com mais ou menos recheio, com mais ou menos osso, com mais ou menos gordura, sexo de primeira, de segunda, de terceira e por aí fora. Em muitos blogues o corpo feminino, por exemplo (que é, regra geral, o produto mais exposto), aparece seccionado, hipostasiado nesta ou naquela parte - quase sempre são os seios, as nádegas e o sexo (exposto ou sugerido) os elementos sinaléticos mais frequentes -, como secções da "gaja" ou das "gajas" (esta é uma identidade frequente, de animalização imediata e instintiva, usada por certos varões autores de blogues). Claro, tempo e espaço haverá para eu abordar a sexualidade femininamente vista.
Mas, no fundo, tenho para mim que é tudo uma questão de nuance, de forma e de fórmula, de ângulo de visão, de cultura nacional ou de grupo (ainda que haja hoje uma espécie de homogeneidade consumista).
Digamos, por hipótese, que a pornografia é a forma popular, underground, do erotismo erudito.

II
A seguir, uma nota para mim importante no erotismo netiano (cujas manifestações são múltiplas, como veremos): o corpo em si tem de ser abolido e simbolicamente reconstruído como objecto com sexualidade saturada, plena. Esse corpo deve conter tudo o que a moral, tudo o que as regras, tudo o que os costumes diurnos exigem ocultar, vedar, fechar, cobrir. Neste sentido imediato, o corpo pleno, carregado de sexualidade, transforma-se num mecanismo compensatório (Alfred Adler diria supercompensatório) para uma multidão de problemas que muitos de nós enfrentamos: severidade nas regras, fracassos relacionais, derrapagens sexuais, onirismo proibido ou auto-imoralizado, impotência, etc.
E é na amplificação disso que se pode compreender o recurso a caixinhas mágicas como a webcam para a execução do que chamo sexo à distância. Recordem, a propósito, um teste que fiz e que aqui dei a conhecer em Setembro do ano passado.
Prosseguirei.
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Este diário é uma casa de bricolagem, em qualquer momento posso corrigir coisas, mudar, alterar, etc.

14 comentários:

  1. Sou obrigada a reconhecer que esta peça do Carlos Serra obriga-me a pensar mais do que eu desejaria. Já disse que o erotismo não é compensação, mas agora devo reconhecer que o problema é mais complicado e se calhar o Carlos ainda o vai complicar mais. Guardo-me para intervir mais tarde. Por outro lado, sou mulher e sinto bem quanto nós as mulheres somos como na sua imagem os bocados chocantes do talho. Choca mas é verdade. Quantas vezes os homens procuram em nós apenas aquilo que é orifício e reentrância, meu Deus!

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  2. Tudo isto e desnecessario.Os africanos nao sonham o sexo, nem usam a net para o fazer, nem falam dele. Fazem sexo serenamente, sem barulho ocidental, para que tanto barulho? Tenho dito.

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  3. Oiça, ó Tivane, não sou competente para analisar os múltiplos e profundos campos do seu argumento, mas tenho alguma competência para impugnar a generalização abusiva que opera. O senhor é exemplarmente generalizante e porque generalizante, vazio.E posso, já agora, dizer-lhe uma coisa sem importância que, exactamente por não ser importante, é importante. Deixe-me ser toscamente dialéctivo. Olhe, sei de muitos funcionários e professores africanos que ocupam, nesta nossa Maputo, mais de 50 por cento do seu tempo de net a ver páginas eróticas. E sei que uma parte significativa dos seus links é, justamente, constituída por portais eróticos. Especialmente por portais com mulheres loiras. É capaz de investigar isso, ó Tivane? Olhe, trata-se de afro-optimismo, está bem?

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  4. Esta agora o silencio é africano Sr Tivane? O Silencio ou o segredo, estou em crer que nao sao uma e a mesma coisa! Corrija-me se estiver errada,pf;

    Outra coisa que nao percebo, o que acha o Tivane desnecessario? dialogar? Exprimir emoçoes? Porque nao falam os africanos de sexo? Os africanos nao sonham?! é facil o acesso dos africanos de um modo geral à net?

    o mundo calado tradicional em oposiçao ao mundo falado ocidental.(?) Pois é meu Caro isto parece-me problematico.

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  5. Desculpem-me meus caros, abri o espaço de comentários para fazer um, mas ao ler o comentário do sr. Tivane fiquei tão abismada que perdi a fala.

    Meu Deus, esse homem existe mesmo??? Por favor prof. Serra estude esse “fenomeno” com urgência maxima. Não sei se rio ou se choro perante tal “reliquia”...

    Enfim, o comentário virá a seu tempo, Até lá...
    Bjs meus

    P.S. A foto que o acompanha JTivane não poderia ser mais apropriada rs :))

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  6. Esse africanos que o Serra a Aguiar e a Diva falam ja nao sao africanos, sao ocidentais disfarcados que perderam respeito com a nossa cultura tradicional e com a nossa moral. Nenhum africano originario ve pornografia na internet. Tenho dito.

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  7. A pornografia nada mais é do que isso: fantasias, fuga das dificuldades reais, onde podemos nos entregar às sensações plenas.

    A net foi o meio em que a pornografia mais e melhor se difundiu - parece que as pessoas passam mais tempo a falar de sexo do que a fazê-lo.
    Como essa coisa de internet é complicada: a princípio parecia estimular e ampliar exponencialmente os relacionamentos, sem as complicações que a realidade impõe; noutro momento, os relacionamentos virtuais, por parecerem demasiados perfeitos, geraram frustração próprias da vida real. Os relacionamentos assim perfeitos demais e, por isso, altamente desejáveis, frustraram-nos por permanecerem irreais.

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  8. Xi mano, xiiiiii grande guerra aqui. Voce mano Tivane, precisa dizer uma coisa: essa coisa de sexo tem Raça? Voce precisa saber eu sou africana nasci la em Tete por isso eu preciso dizer a voce "ta menha, yué" quer dizer eu vou-lhe bater, ouvir? La na minha terra a gente fala todos os dias em amor em sexo, ouviu? Voce ser mesmo xiconhoca.

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  9. Oiça, Cássia, deixe-me tentar meter-me no seu argumento e fazer-lhe esta pergunta: acha que caminhamos para uma espécie de era à George Orwell (no pior dos sentidos, o de "1984") e de Aldous Huxley (no melhor dos sentidos, recorde-se de "O melhor dos mundos" e de "Regresso ao melhor dos mundos") em que o erotismo à distância, de net, poderá surgir como uma espécie de pílula substituta da realidade, uma aspirina ou algo assim? Algo de tão mais forte quão mais forte se tornar a distância em relação á realidade ou a sua recusa?

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  10. Oiça, Diva, pode crer que amaria estudar o tivanismo. Mas diga-me uma coisa: que opinião tem sobre o que escrevi? Concorda? Discorda?

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  11. O que é um "africano originário", ó Tivane? E o que é " cultura tradicional"? Penso que o Hegel se antecipou a si. Ou então você re-hegelianizou-se. O que acha?

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  12. Sempre um prazer passar por aqui, Carlos Serra. Estive ausente.
    Jonas

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  13. Professor,

    Não posso deixar de concordar. Sou mulher e como tal, a “vulgarização” do termo não me agrada de forma alguma. Pouco sei do que falar sobre a pornografia literária... Normalmente não me qualifico na “moral” de julga-lo, acho que é um terreno pouco fértil e por isso fujo dele.

    Também gosto de abordar o corpo como um “todo”, passeio por ele mas gosto de tocar a alma, de forma leve e como uma carícia quase literaria, coisa que o bloguismo pornografico não aplica. Usa o corpo como uma peça de mercado.

    Escolho fotos e palavras no meu blog, que normalmente evidenciam o corpo, mas acho que são esteticamente a “forma” daquilo que coloco expresso na minha escrita. Valorizo demasiado essa combinação para tornar “barata” e “chula” a erotização do corpo e principalmente da mulher.

    Como diz, no fundo é tudo uma questão de nuance e claro... de (bom) gosto.
    Bjs meus

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  14. Bem, Diva, obrigado pela sua resposta. Aguardemos agora a de Cássia.

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