E Severino fez uma intervenção brilhante, dando-nos o quadro dialéctico de uma identidade múltipla, em construção, que simultaneamente já era e ainda não era*.
E é justamente nesse direcção, de resto clássica, que qualquer reflexão sobre identidade caminhar, mesmo se e quando esta parece acabada, definida e definitiva.
E é nesse campo que se podem inscrever os "sentidos múltiplos" referidos por Olívia Massango.
Mas o problema é mais complexo. Com efeito, a identidade não pode ser lida como algo acima do que Ngoenha chamou "necessidades de base": "Se certas populações não virem as próprias necessidades de bases satisfeitas no mesmo momento em que outras vivem na riqueza, isso vai pôr em causa a unidade nacional".
A esse propósito, tenho para mim que vale a pena reproduzir o que, em comentário ao número 2 desta série, observou Jorge Matine: "Procurar identidade é como tactear uma bússola. As coordenadas nós inventamos, para onde o vento favorece nossa portagem segura. Na busca de identidade nao interessa a ciência da bússola, mas sim a segurança que a bússola reproduz (..) É a técnica mais diagonal para legitimar nossa vantagem sobre espaços sociais e seus recursos."
E assim termino estas breves notas sobre identidade, motivadas pela crónica fascinante da jornalista Olívia Massango.
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*Ngoenha, Severino, Identidade moçambicana: já e ainda não, in Serra, Carlos, Identidade, moçambicanidade, moçambicanização. Maputo: Livraria Universitária, 1998, pp. 17-34.
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