"Atribuindo as causas dos roubos a actos de vandalismo, fonte da EDM refere-se ainda a cidadãos que efectuam ligações clandestinas e os que violam os instrumentos de medição."
"As Forças Armadas de Defesa de Moçambique surpreenderam cidadãos que desfazem engenhos explosivos alastrados um pouco por todo Maputo, aquando das últimas explosões do paiol de Mahlalzine. Descrevem os agentes que as populares tentavam reaproveitar o ferro que compõe os explosivos, bem como tentavam encontrar o suposto mercúrio."
Estamos assim confrontados com a corrosão do desenvolvimento. Um bocado por todo o lado, os ladrões do desenvolvimento roubam cabos eléctricos, transformadores, cantoneiras, espias, fio de terra, óleo mineral, lâmpada de semáforos, etc. Na cidade de Maputo, pelo menos sete em cada 100 clientes da Electricidade de Moçambique estão a consumir energia eléctrica ilegal, com recurso a ligações clandestinas.
Sem dúvida que isso é perturbador para quem pode fazer uso da electricidade em suas casas, como os leitores deste diário e eu.
Vistos no interior dos provedores de serviços e dos consumidores, os ladrões do desenvolvimento são, efectivamente, vândalos. Eles ferem gravemente uma ordem, a ordem considerada normal. Os vândalos entram, portanto, na esfera ameaçadora da desordem, do patológico.
Assim os etiquetamos com os valores que são os nossos e pelos quais lutamos.
Com efeito, não faz sentido que os ladrões destruam o que é desenvolvimento, o que é considerado desenvolvimento dentro do nosso prisma de uma determinada ordem de valores havidos por universais e justos. Violar esses valores é violar os fundamentos da normalidade.
Com efeito, não faz sentido que os ladrões destruam o que é desenvolvimento, o que é considerado desenvolvimento dentro do nosso prisma de uma determinada ordem de valores havidos por universais e justos. Violar esses valores é violar os fundamentos da normalidade.
Todavia e ainda que poucos indicadores existam sobre o uso que é dado aos produtos do roubo, pode colocar-se como hipótese razoável que são largamente usados no artesanato popular, em suas múltiplas actividades. Tudo o que é roubado é vendido ou transformado. Nada se perde, tudo se aproveita e se retransforma. Aliás, o semanário "Domingo" de hoje reporta que o roubo de cantoneiras e de material eléctrico destina-se ao "fabrico de objectos de cozinha, potes, panelas, talheres entre outros" (p. 7).
Ao desenvolvimento do centro de poder é, desse modo, oposto um contra-poder, um outro tipo de desenvolvimento, actuando na esfera da ilegalidade, dos golpes de penumbra, com recurso às tácticas da invisibilidade, fazendo uso de outros códigos de valor e legitimidade.
Como diria Michel de Certeau, estamos confrontados com a arte do fraco. E a arte do fraco é racional, ainda que a condenemos violentamente.
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