Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
Outros elos pessoais
28 abril 2007
Programa: reduzir oposição à insignificância
“Vamos fazer tudo que for necessário de modo a que a Frelimo não saia nunca do poder e que continue a servir melhor. Podem ser criados milhares de partidos e eles todos concorrerem em todas eleições, a Frelimo sempre continuará a mandar neste país. Aliás, queremos que daqui a algum tempo nem sequer no Parlamento entrem, ou seja, no futuro todos assentos devem ser ocupados pelos nossos deputados. Não sou a favor da extinção da oposição, mas ela deve continuar insignificante.”
Chamo a atenção para dois fenómenos para mim fundamentais: 1) O título do "Notícias" é o seguinte, sem aspas e sem remeter para Matsinhe: "Oposição deve ser reduzida a nada"; 2) O ex-ministro da Segurança tem estado a intervir na Academia de Ciências Policiais.
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Deverei voltar ao tema.
17 comentários:
Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.
Prof,penso que valeria a pena voltar ao seu artigo sobre o “Sindroma do Barão de Munchhausen-Guebuzismo(6)" para ver como se encaixam os novos factos que vão surgindo aqui e acolá.Sei que não tem sido prática dos utilizadores deste blog, mas vão fazer um comentário cruzando o seu artigo acima citado e o artigo do prof E.Macamo “um homem sortudo,o Guebas!” publicado pelo Noticias.O primeiro sobre aquilo que E.Macamo chama de "desafio" do partido: poucos,senão muito poucos mesmo,são os factos - ao longo de mais de 30 anos - que podem dar crédito a que a democracia seja um valor enraízado no partido FRELIMO.A viragem democrática - não confundir com a adopção da economia de mercado - foi fundamentalmente produto de uma confluência de factores internos (estrangulamento do país pela guerra civil) e externos (colapso dos regimes comunistas),mais do que de um exercicío interno de revisão ideológica.A cultura monolitica,a percepção hegemónica do partido e a própria ausência de debate de ideias no seio do partido (a nível de bases e intermédio) são,entre outros,valores ainda fortemente dominantes.AOS partido FRELIMO ainda é um partido do(s) Chefe(s) cujas ideias é políticamente incorrecto contestar,cultura partidária que acabou por se transformar em cultura de Estado. Tudo indica que Guebuza não será ainda o homem da rotura e da modernização do partido, justamente porque com ele reemergem também as vozes e as práticas mais conservadoras do partido, que Chissano aparentemente havia relegado a segundo plano.Como já havia dito no meu comentário sobre os pronunciamentos de Marcelino dos Santos “postado” neste seu blog, ele é a face desvelada/escolhida daquilo que são as convicções mais profundas do núcleo duro do partido FRELIMO.Pelos vistos,outros começam a dar também a cara como foi o caso de M.Matsinhe.Tenho sérias dúvidas que Guebuza possa estar completamente “desfazado” desse discurso hegemónico e de cariz totalitario.Com a aprovação quase segura da nova lei de imprensa o círculo (contrôlo do Executivo,do Legislativo,do Judicial,dos meios de repressão, do acesso a negocios e principais sectores ecnómicos) ficará definitivamente cerrado.É que realmente a FRELIMO não lutou só pela Independencia (ver meu comentário ao capitulo 6 /Guebuzismo).Quem ainda tem dúvidas disso que continue a espera ou... a dormir.Também não estou muito certo se a preocupação de Guebuza serão a RENAMO e a insatisfação popular como menciona prof.. Salvo um voto massivo capaz de resistir a manipulações eleitorais,a RENAMO não terá qualquer hipotese a prazo.Quanto a insatisfação popular prof. essa nunca foi o real motor das políticas da FRELIMO.É só fazermos o balanço das nossas insatisfações durante mais 30 anos e ver quantas foram satisfeitas e como foram satisfeitas.Crimes financieros,sectores em descalabro de autoridade (PRM,Justiça,florestas),paiois a arder,petições dos cidadãos discutidas á porta fechada, só para citar algumas das mais recentes fontes geradoras de insatisfação pupular que pelo vistos são simples arranlhões na pele dos nossos gobernantes.Insisto,o principal desenho/preocupação de Guebuza/FRELIMO é eternizar o seu poder em todas as suas vertentes(politica e económica).É Essa a tarefa do Camarada Guebuza.
ResponderEliminarEu concordo plenamente com a visão do anónimo, o primeiro comentário. Este é um programa da Frelimo e Guebuza como o seu líder. Quem pode dizer que já ouviu da posicão do Guebuza em relacão as declaracões do Marcelino dos Santos e agora Matsinhe? Ao contrário Chissano já se distanciou publicamente.
ResponderEliminarAcho que o debate deve ser mais forte agora que nunca e que só um voto massivo e de resistência a manipulacão eleitoral e a tendência para o regime totalitário é a única solucão. Posso imaginar que as próximas eleicões provinciais e autarquicas serão vistos pela Frelimo como referendum.
A politica no nosso pais cada vez se assemelha mais a um filme de Steven Spilberg (nomeadamente o Parque Jurassico) cheio de efeitos especiais, saudosismos, romantismos, mas assima de tudo recriacoes perigosas e de efeitos inesperaveis.
ResponderEliminarE comum eu ouvir das pessoas que parece que estamos em 75, ou que voltamos ao tempo das palavras de ordem...
Mas mais comum ainda e perceber como os 'historicos' andam a sair da toca e dizer barbaridades atras de barbaridades, com a confianca recobrada de estatuto de 'intocaveis'.
Parece a Divina Comedia no castelo de Kafka... nao se sabe se se rir, se se chorar, se se desesperar...
E nos aqui com o eterno compromisso de um possivel encontro com Godot...
Ainda hoje aqui farei entrar mais algumas notas provisórias para análise do guebuzismo.
ResponderEliminarA questão, la strega, é que Matsinhe não diz barbaridades. Ele limita-se a expressr com uma lógica implacável o que constitui o miolo de um sistema político com as suas regras, os seus mentores, os seus carris de circulação, etc. Vou tentar motrar um pouco disso na entrada que já anunciei aqui.
ResponderEliminarPode chamar o que lhe quiser, professor... para mim continuam a ser barbaridades... hoje nao me apetece ser animal racional!
ResponderEliminarProfessor, estamos a espera do que nos vem dizer, embora barbaridades no sentido próprio como figurado, eu não pense que este tipo de discurso da Era Guebuziana mereça essa classificacão segundo a La Strega.
ResponderEliminarSei de antemão que este discurso pode ganhar campo, em particular devido aos oportunistas que só acordarão qd perderem as suas oportunidades.
O texto prometido está terminado, tenho-o em banho-maria enquanto ultimo algo para mais um número da série sobre os caçadores de bruxas. Aguarde, se não se importa, ou hoje ou amanhã ele sai, depois de o rever.
ResponderEliminarNão há dúvida que estou o aguardando mesmo que impaciente. Mas deixe-me admirá-lo professor pela dedicacão no trabalho. Se o professor me chamasse um dia por preguicoso até havia de lhe compreender pelo seu exemplo. O que não sei é se os que chamam camponeses por preguicosos são exemplares.
ResponderEliminarNão há dúvida que estou o aguardando mesmo que impacientemente. Mas deixe-me admirá-lo professor pela dedicacão no trabalho. Se o professor me chamasse um dia por preguicoso até havia de lhe compreender pelo seu exemplo. O que não sei é se os que chamam camponeses por preguicosos são exemplares.
ResponderEliminarNão sei por que é que não se pode ver no discurso de Matsinhe e Marcelino coerência ideológica? O facto de a Frelimo ter dado uma viragem da “esquerda radical” para o “centro-direita” não significa que todos dentro dela devam concordar com tal viragem.
ResponderEliminarSem dúvidas o Chissanismo é responsável por essa viragem. Dai ser normal que se tenho publicamente pronunciado. É de pessoas com princípios que precisamos, pois assim sabemos com quem lidamos mesmo que deles discordemos. A Frelimo não é uma unicidade. É um erro de perspectiva reduzi-la a isto ou aquilo. É um partido cheio de contradições, como o é qualquer outro. E vaticino que a medida do seu crescimento e complexidade essas diferenças vão se flectir melhor. É, por isso, até salutar que cada um saia e defenda claramente que visão de país e de Frelimo tem.
Patrício Langa, o que nos preocupa é a consequência de toda esta marcha. Sabemos de antemão dos efeitos da mesma. E se a Frelimo não é uma unicidade é que neste momento os que não concordam com isto não falam. Um outro problema e até relevente é o local onde este discurso foi pronunciado e para que pessoas ele dirigiu o seu discurso. E, esperamos que o Sibindy observe isto porque todos sabemos que a Frelimo usa polícias também para manipular eleicões. Assim a Renamo vai insistindo no uso dos guerrilheiros. Como ficaremos então? Pelo menos eu considero isto de frelimizar a polícia e o aparelho do estado muito perigoso. Ideologias se devem manifestar sim, mas em locais proprio.
ResponderEliminarProfessor,
ResponderEliminarMariano Matsinha tem a virtude de ser uma personagem discreta, mas nem por isso menos tenebrosa. Foi Ministro da Segurança quando da famigerada OPERAÇÃO PRODUÇÃO, quando em Maputo as jovens iam presas por usar mini-saia, roupa justa etc. É do tempo da Lei da Chicotada. É co-responsável por todas essas BARBARIDADES. Quantas Famílias destroçadas por ousarem afirmar as suas convicções religiosas (Testemunhas de Jeová).
A Frelimo libertou o povo do jugo colonial, conquistou a Independência política. Ninguém de boa fé lhe pode negar esse mérito e estar reconhecido. Mas cedo se encantou com o bem-estar que o poder político proporcionava e engendrou mecanismos, visando, como Mariano Matsinha continua a defender, PERPETUAR o poder.
Atentos, quando circunstâncias históricas obrigaram a Frelimo a descartar o socialismo e optar pela economia de mercado (negociação e adesão ao FMI e WB nos anos 1984/86) o partido apressou-se a criar condições para o rápido acesso da instituição e dos seus membros e simpatizantes ao poder económico.
Já com a Nova Constituição, a PROMISCUIDADE partido / governo levou ao enriquecimento rápido e sem justa causa: distribuição de casas do Estado pelos camaradas; as residências oficiais do Governo, nas zonas nobres da cidade, passaram a casas particulares dos Ministros, Secretários de Estado, Directores Nacionais, etc. Em paralelo, tiveram acesso a outras casas, para os próprios, esposas, filhos menores, etc.
Hoje uma significativa parte das residências alugadas a embaixadas, organizações internacionais, grandes empresas e seu pessoal sénior, são pertença (segundas, terceiras, quartas casas) de actuais e/ou antigos membros do Governo.
Nas privatizações do sector empresarial do Estado e nas linhas de crédito do Banco Mundial para apoio à reabilitação industrial e ás pequenas e médias empresas foi o que todos sabemos: entrega de patrimónios a camaradas e simpatizantes sem capacidade para o seu aproveitamento, financiamentos desviados e não pagos. O Sr. Mariano Matsinha, que no Notícias de 28/04/07 aparece como Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Emose (um entre muitos outros tachos, certamente) também faz parte do rol dos proprietários e co-proprietários de empresas cujas dívidas acabaram por ser pagas pelo Tesouro à Banca.
Contrariando a Nova Constituição da República, MUITAS FORTUNAS FORAM E CONTINUAM A CONSTITUIR-SE FORA DAS REGRAS DO JOGO DA ECONOMIA DE MERCADO, PORQUE ESCAPAM ÀS LEIS DA CONCORRÊNCIA. Escandalosa promiscuidade. Veja-se o caso mais recente da casa oferecida ao filho da Srª Primeira Ministra. Inqualificável, vergonhoso compadrio e tráfego de influências, CORRUPÇÃO ACTIVA.
Com todas estas BARBARIDADES compreende-se o apego ao poder dos históricos da Frelimo e seus comparsas do enriquecimento fácil. Com outros no poder, não estão livres de virem um dia a ser julgados. A memória do povo é bastante mais curta para o que se faz de bom do que para as atrocidades. Eles sabem! Por essa razão, Matsinha quer a Frelimo no poder, hoje, depois da sua morte e de seus descendentes. Não vá o diabo tecê-las.
Florêncio
Bom, estou feliz porque Mariano Matsinhe apareceu e disse o que lhe ia na alma. Isto é bom. Voltaire dizia o seguinte e passo a citar, de memória: Posso não concordar com as coisas que dizes mas lutarei até a morte na defesa do direito que tens de dizê-las. Está de parabéns o Sr. Matsinhe. Pelo menos disse o que pensa.
ResponderEliminarNa verdade, se o desejo de Matsinhe se concretizará, isso o tempo dirá. Dizia um Ministro francês: "tudo virá ao seu tempo, se tivermos a capacidade de esperar. Li esta frase no celebre romance de Dostoiévski " o duplo", publicado em 1846.
Volto a insistir: a questão central está em compreender a lógica da posição de Matsinhe. Eu deverei ainda hoje publicar o que prometi sobre isso.
ResponderEliminarAos caros Ilídio e Patrício gostaria eu de lhes perguntar se acham que isto é uma opinião pessoal de Mariano Matsinhe ou um programa dum partido no poder. leiamos com um pouco de atencão pelo menos aquilo que o Helio escreveu para não o acusarmos de que omitiu algo:
ResponderEliminar“Vamos fazer tudo que for necessário de modo a que a Frelimo não saia nunca do poder e que continue a servir melhor. Podem ser criados milhares de partidos e eles todos concorrerem em todas eleições, a Frelimo sempre continuará a mandar neste país. Aliás, queremos que daqui a algum tempo nem sequer no Parlamento entrem, ou seja, no futuro todos assentos devem ser ocupados pelos nossos deputados. Não sou a favor da extinção da oposição, mas ela deve continuar insignificante”.
Conforme prometido, escrevi de novo (vejam a penúltima entrada)numa tentativa de encontrar a lógica subjacente à intervenção de Matsinhe.
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