Uma vez mais, o ritual repete-se, na vizinhança do 1.º de Maio: na pessoa do seu presidente, Amós Matsinhe, a Organização dos Trabalhadores Moçambicanos ressurge para dizer que os trabalhadores sofrem com o magro salário que recebem.
Segundo Matsinhe, citado pelo "Notícias" de hoje, "o actual salário mínimo somente chega para cobrir metade das despesas básicas de uma família média, sem abranger os gastos com a Educação, Saúde e transportes."
Espera Matsinhe, como todos anos muitos esperam, que o problema possa ser resolvido na Comissão Consultiva de Trabalho, cujos trabalhos terão começado hoje.
Veremos, então, que após longas e laboriosa negociações, chegar-se-á a um acordo, com a fixação de um salário sempre mínimo, salário que, mal começar a ser pago, já terá sido ultrapassado pela subida em flecha dos preços de produtos de primeira necessidade.
Claro que o Capital apresentará razões que dirá serem decisivas para aumentar sem aumentar o salário mínimo.
E claro que o Estado, o maior empregador do país, tudo fará para que o salário mínimo seja mininamente aumentado sem que isso lhe traga grande transtornos.
O Estado não mais estará do lado dos trabalhadores. Do lado do Capital, sim, cada vez mais num mundo no qual o Capital exige um Estado cada vez mais mínimo e no qual os sindicatos perdem terreno muito rapidamente.
Lá por terras do Hotel Fairmont, na São Francisco americana, os capitalistas decidiram uma coisa nos anos 90: neste século ainda chegaremos a um ponto em que bastarão dois décimos da população activa para manter em actividade a economia mundial. O resto será dispensado. Como disse um deles, em fórmula bem à Hobbes, no futuro a questão será "to have lunch ou be lunch"*.
Enquanto isso, o "Notícias" de hoje avança com a seguinte informação a propósito dos festejos do 1.º de Maio na Praça da Independência: "Segundo apurámos, para efeito será instalado no local um grande hidráulico, vindo dos Estados Unidos, que alberga cerca de 80 toneladas de equipamento de som e luz e está equipada com uma tecnologia de ponta que permite a sua automontagem."
Se o objectivo for circense, no dia em que os trabalhadores desfilarem, uma vez mais, perante quem não lhes dará o salário mínimo mas que lhes encherá as cachimónias com veementes pregões de combate contra a pobreza absoluta, não tenho qualquer dúvida de que o espírito de Fairmont viajará dentro do hidráulico para dizer aos nossos trabalhadores - de salários rotos, despidos de futuro - as duas coisas que, diariamente, escutamos pela voz do povo nos sítios do povo: "não há crise" porque "não vale a pena".
_________________________
*Martin, Hans-Peter et Schumann Harald, Le piège de la mondialisation. Paris: SOLIN, 1997, pp. 12-13.
Segundo Matsinhe, citado pelo "Notícias" de hoje, "o actual salário mínimo somente chega para cobrir metade das despesas básicas de uma família média, sem abranger os gastos com a Educação, Saúde e transportes."
Espera Matsinhe, como todos anos muitos esperam, que o problema possa ser resolvido na Comissão Consultiva de Trabalho, cujos trabalhos terão começado hoje.
Veremos, então, que após longas e laboriosa negociações, chegar-se-á a um acordo, com a fixação de um salário sempre mínimo, salário que, mal começar a ser pago, já terá sido ultrapassado pela subida em flecha dos preços de produtos de primeira necessidade.
Claro que o Capital apresentará razões que dirá serem decisivas para aumentar sem aumentar o salário mínimo.
E claro que o Estado, o maior empregador do país, tudo fará para que o salário mínimo seja mininamente aumentado sem que isso lhe traga grande transtornos.
O Estado não mais estará do lado dos trabalhadores. Do lado do Capital, sim, cada vez mais num mundo no qual o Capital exige um Estado cada vez mais mínimo e no qual os sindicatos perdem terreno muito rapidamente.
Lá por terras do Hotel Fairmont, na São Francisco americana, os capitalistas decidiram uma coisa nos anos 90: neste século ainda chegaremos a um ponto em que bastarão dois décimos da população activa para manter em actividade a economia mundial. O resto será dispensado. Como disse um deles, em fórmula bem à Hobbes, no futuro a questão será "to have lunch ou be lunch"*.
Enquanto isso, o "Notícias" de hoje avança com a seguinte informação a propósito dos festejos do 1.º de Maio na Praça da Independência: "Segundo apurámos, para efeito será instalado no local um grande hidráulico, vindo dos Estados Unidos, que alberga cerca de 80 toneladas de equipamento de som e luz e está equipada com uma tecnologia de ponta que permite a sua automontagem."
Se o objectivo for circense, no dia em que os trabalhadores desfilarem, uma vez mais, perante quem não lhes dará o salário mínimo mas que lhes encherá as cachimónias com veementes pregões de combate contra a pobreza absoluta, não tenho qualquer dúvida de que o espírito de Fairmont viajará dentro do hidráulico para dizer aos nossos trabalhadores - de salários rotos, despidos de futuro - as duas coisas que, diariamente, escutamos pela voz do povo nos sítios do povo: "não há crise" porque "não vale a pena".
_________________________
*Martin, Hans-Peter et Schumann Harald, Le piège de la mondialisation. Paris: SOLIN, 1997, pp. 12-13.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.