Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
Outros elos pessoais
04 dezembro 2006
O poema ao mainato
Meu mainato era tão negro, negro como a noite escura
Mainato tu eras negro, mas tinhas muito valor.
Talvez um dia eu tente a sociologia desse tipo de recordações.
3 comentários:
Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.
Também já registei alguns comentários deste género, alguns bem mais tenebrosos: “Coitado do Mário [nome fictício] que teve que fazer a tropa com os pretos”. Escusado será dizer que o interlocutor pretendia dizer que, dadas as reduzidas habilitações académicas do Mário, ele teve que cumprir o serviço militar como soldado raso. Mas no seu comentário perpassa a ideia de que no fundo da hierarquia social, no seio dos “sem estatuto” estavam os africanos, criaturas repletas de estigma e causadoras de repulsa. O problema não seria o posicionamento nos estratos mais baixos da hierarquia social, mas antes o estar ao mesmo nível das populações africanas vulgo “pretos”). Penso no impacto desta situação social para a auto-estima do tal Mário e para as suas estratégias de relacionamento e convivência social.
ResponderEliminarUm outro exemplo: “Ela gostava tanto daquela terra que até falava a língua dos pretos”. Neste “até falava a língua dos pretos” é evidente não só um medo / desconsideração pelo desconhecido como, inclusive, uma certa desumanização do Outro. A generalização e redução (e coisificação) de todos os idiomas africanos a uma “língua dos pretos”, que nem tem nome próprio, primitiva, composta por vocábulos incompreensíveis para o Eu, falada por sujeitos sem estatuto é sintomático das representações sociais de muitos acerca das populações africanas.
O mais curioso é que estes comentários coexistem com outros, lusotropicalistas, onde se afirma categoricamente o humanismo da colonização portuguesa (compara-se frequentemente com o apartheid). São frequentes comentários que salientam a amizade, a docilidade e uma lealdade africana para com o português (ex.: “Quando se despediu de mim até chorou. Coitados, eles eram muito sensíveis”).
Em todos estes comentários ignoram-se estratégias sociais de interesse e de sobrevivência material, bem como as condições e estruturas que reproduziam as desigualdades sociais. Enfim… um campo de estudo que importa analisar se tivermos em atenção o envelhecimento destas testemunhas, diria um sociólogo.
Um abraço, João
Sem dúvida, João, um belo campo de estudo. Mas considerando tb as percepções do lado oposto.
ResponderEliminarClaro! Sem dúvida. Cairá por terra o mito lusotropicalista. Um abraço
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