Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
Outros elos pessoais
24 outubro 2006
Linchamentos: hipótese e variantes de explicação
O que é uma hipótese: uma hipótese é uma relação entre dois ou mais fenómenos. Preposição provisória, destina-se a ser testada na investigação. Aqui, é confirmada ou infirmada. A hipótese que se segue é grande, mas não me preocupei por agora em torná-la mais sintética. O fundamental para mim foi tornar claras algumas ideias. A hipótese é acompanhada por duas variantes.
Hipótese para os linchamentos: moradores dos bairros periféricos da cidade de Maputo vivem um conglomerado de problemas entre os quais a criminalidade. Exasperados com a ausência de protecção, confrontados com uma polícia que não lhes inspira confiança, decidem fazer justiça por suas próprias mãos. O linchamento surge como o exutório natural, como a despoluição, como a válvula de escape que permite evacuar temporariamente a tensão e a cólera sociais. O linchado é o bode expiatório, ele tanto pode ser criminoso como inocente. Mas o linchado simbólico é a polícia. Através do linchamento, da violência brutal, sumária, os moradores passam dos sentimentos hostis a uma acção terapêutica. Esta acção terapêutica, catárquica, dá aos moradores o sentimento da justiça finalmente feita e permite adormecer temporariamente outros problemas sociais que os apoquentam, derivados da dificuldade crescente de sobrevivência social. E se interrogados, em únissono, cúmplices, solidários, dirão que nada sabem, nada viram, nada ouviram.
(Esta hipótese salvaguarda a autenticidade popular do fenómeno)
Hipótese tornada mais complexa
Variante A: esse fenómeno genuíamente popular pode, no entanto, estar a ser ampliado pela acção de agitadores com intenção não política, destinada a criar condições para fenómenos como: ajustes de contas de natureza e amplitude a estudar, delimitação de territórios de acção futura das gangs, etc.
(Esta variante não é de natureza complotária e por isso não retira ao movimento a sua matriz popular, endógena)
Variante B: esse fenómeno genuínamente popular pode estar a ser ampliado pela acção de agitadores com uma intenção política, mas disfarçada, com o intuito de retirar dividendos políticos, igualmente de natureza e amplitude a investigar, a médio ou longo prazo.
(Esta segunda variante também não é complotária e por essa razão não subtrai ao fenómeno a sua raiz popular genuína)
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Estou completamente aberto a um debate.
3 comentários:
Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.
Em relação ao que o Wetela escreveu, três coisas me parecem dever ser ditas: (1) a morfologia dos linchamentos pode variar consideravelmente; (2) nem sempre o linchado é culpado: ele pode ser a parte "substituta" na vitimização, a parte mais fraca (que substitui o inimigo real, o inimigo forte); as análises das multidões em termos irracionalistas, ao género de Le Bon, merecem-me sempre muitas reservas, se esquecermos que à retaguarda do acto existem ou podem existir razões causais bem sólidas. Um abraço!
ResponderEliminarOlhe, este domingo, 11.30, TVM, farei parte de um grupo que vai discutir os linchamentos em interactivo.
ResponderEliminarEntrevista adiada...
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