“Galileu: (…) A minha intenção não é demonstrar que até aqui tive razão, mas sim descobrir se a tive ou não. Desde já lhes digo: ponham de parte todas as esperanças, vocês que se vão dedicar à observação. Talvez sejam vapores, mas antes de aceitarmos que são manchas, o que até nos convinha, partamos do princípio que são rabos de peixe. Sim, vamos mais uma vez pôr tudo em dúvida. E não avançaremos com botas de sete léguas, mas antes pelo contrário com passos de caracol. E o que descobrirmos hoje, amanhã riscaremos do quadro, e só lá voltaremos a escrever aquilo que descobrirmos de novo pela segunda vez. E aquilo que desejamos descobrir, uma vez descoberto, passaremos a encará-lo com extrema precaução. Vamos pois dedicar-nos à observação do Sol com a decisão inflexível de demonstrar a imobilidade da Terra! E só quando tivermos falhado por completo, quando estivermos completamente derrotados, sem qualquer esperança, lambendo as nossas feridas e cheios de tristeza, começaremos então a perguntar se afinal não tínhamos razão, ao dizer que a Terra se movia. (…) Mas se todas as outras teorias, exceptuando esta, se desfizerem entre as nossas mãos, então não haverá dó nem piedade para com aqueles que não investigaram, e no entanto falam. Tirem o pano do telescópio e apontem-no para o Sol!”
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Brecht, Bertolt, Vida de Galileu, Teatro V. Lisboa: Portugália Editora, 1970, pp. 145-6.
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