Eis seis hipóteses de trabalho para investigar um problema típico das lógicas mestiças da vida: a burocracia.
Ela começa por ser um produto das disciplinas estaduais. Todo o Estado quer conhecer, gerir e conformar os seus cidadãos. Daí a função imperativa do papel e, generalizadamente hoje nos Estados do capitalismo de ponta, da disquete e do flash drive.
Mas a burocracia é, também, um exercício relacional de poder. Quem está atrás de um balcão tem o «poder» de decidir da vida do outro.
A burocracia é, igualmente, uma exemplar manifestação da autoridade dos Saberes, da pureza das Escrituras e, portanto, da essência do Sagrado. Formulário e regras, permeados pela liturgia do Carimbo, são aqui, monitoradas pela casta real dos amanuenses.
A burocracia é, ainda, uma actividade lúdica e sexual. Ela fluidifica os nossos inúmeros capitais de prazer vertical e os plurais mundos das desforras polissémicas.
Mas não só: rizomática, a burocracia consegue ser, além do mais, uma manifestação das pacientes ruralidades desta africana terra. Por que correr se chego onde quero chegar (à vida) indo como quero ir, devagar?
Em países como o nosso, caros cidadãos, a burocracia tem, finalmente, uma robusta componente de protesto social e de redistribuição da riqueza social. Quanto mais faço esperar, mais consigo que me paguem o salário que o formal me deve mas que só o informal pode pagar. Esta é a lógica compensadora do Estado dumba-nengue.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.