Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
Outros elos pessoais
22 junho 2006
Vá, sociólogo, senta-abaixo e colhe o país real!
Vá, deixa um pouco as consultorias e faz isso, para te reciclares, para te re-oxigenares, para te re-humanizares.
Senta-te, não leves nem bloco nem caneta. Senta-te como elas, com as mamanas, no senta-abaixo, como se diz popularmente, quer dizer, senta-te no chão.
E observa, coisa a coisa, detalhe a detalhe, toda aquela espantosa lufa-lufa, todo aquele mundo sem fim do bula-bula, no anda-que-anda, no vai-vem, hora após hora, desde manhã levantada ao sol a pôr-se.
Mete dentro de ti tudo, palavras, gestos, movimentos.
Não deixes absolutamente nada de fora: histórias, críticas, risos, choros, tristezas, alegrias. Colhe tudo da química espantosa dessa vida, dessa labuta dura.
Sabes, sociólogo, junto ao senta-abaixo da modesta carvoeira que tem o filho às costas e a quem ela alimenta com o resto de mandioca do dia anterior ou com o excedente de amendoim para venda, tens todo o país à mão, o real país, em bruto, aquele que não cabe nas estatísticas e nos relatórios bien que damos a conhecer nas climatizadas salas dos hotéis mais caros da cidade.
3 comentários:
Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.
Saudações!
ResponderEliminarSó agora vi os comentários referentes a esta entrada. Acredito que tenha sido por lapso, mas não fui eu, Mangue, quem fez o primeiro comentário. Creio, também, que, pela outra entrada “não há mirantes sociológicos privilegiados”, já se tenha apercebido. A despeito, e por ter aparecido o meu nome, senti-me na obrigação de dar o meu ponto de vista - nem tanto em relação ao assunto tratado no texto, mas em relação à sua interpretação, isto é, do que serviu de base à crítica.
Para mim, vista no conjunto do texto, a sentença citada pelo Patrício Langa (e o texto em si), primeiramente, não sugere uma espécie de mirante privilegiado. Sugere sim, ainda no meu entender, a prevalência, em Moçambique, de uma forma de “exercer” a sociologia – as consultorias, que não deveriam ocorrer a expensas das outras formas.
O Langa levanta algumas questões importantes, mas pode estar a deixar de lado outra questão igualmente importante. Ou seja, a não discriminação das formas negligenciadas de “exercer” a sociologia pode ser, por si, uma discriminação, isto é, pode ser uma maneira tênue de mirante privilegiado a favor da forma predominante (consultorias).
Quanto ao “olhar real” – ao que me pareceu em segundo plano – de facto, nem uma nem outra (seja do Xiquelene ou da Cantina do Pereira), pode, por si, ser colocada como se fosse o todo.
Abraços,
Mangue
Acabo de apagar um longo comentário ao comentário do P. Langa. Sobre as questões de "local" de onde se observa. E opina. Apago-o pois não vale a pena contra-argumentar, Langa é um intelectual consistente, não escreve no ar. É a sua posição. E decerto reflectida.
ResponderEliminarFico apenas surpreso, como sempre, com o silÊncio, e até com a escrita, concordantes com este tipo de discurso (em post acima V. pacificamente o integra). Intelectual e idealmente (ideologicamente, se quiser). O local de onde Langa fala, de onde observa, "racialista", é muito limitado intelectualmente - há outros postos de observação mais profíquos. O local de onde humoriza (no remoque às cores esbofeteáveis) não é apenas deselegante (que o fosse, qual o problema de descontruir as censuras da "elegância" sociologicamente demarcada?). É politicamente muito complicado, perigoso. E intelectualmente contraditório (ainda que recorrente). E não é um deslize, é um prisma.
O encanto metodológico que recobre o discurso não me faz olvidar o "ovo da serpente" que aqui se choca. Que há disto em todo o lado há. Mas nem em todo o lado há o silêncio, concordante ou timorato. E é esse silêncio que tanto me angustia, mero hóspede.
1. sim, o jpimteix é o jpt, foi um erro de marcação no sistema de comentários blogger (mudei, até porque apaguei o blog a que se liga a sigla)
ResponderEliminar2. racialista não é racista, isso é óbvio.
as constantes leituras racialistas que acompanho nos meus vizinhos incomodam-me
3. o comentário que apaguei tem a ver com Maputo, ou de como podemos tentar analisar porque é que o "caracol" tem um fenotipo habitacional diferente de outros "caracóis". procurava ultrapassar o único "caracol", e principalmente este caracol sociologicmaente decadente. saber de quem é a propriedade do caracol. procurava comparar com outras cidades (zonas particulares) (ainda para mais em urbanismos a regra e esquadro como o maputo cimento pré-90s), procurava etc.
4. se eu desse (nos meu tempos mais jovens) um par de bons estalos num fenotipo escuro ele mudaria de cor. é característica das cores, o mudarem quando levam porrada
5. e,finalmente, quando ando nos outros "caracóis" de maputo vou assistindo à crescente privatização dos serviços de segurança - do folclórico guarda dormindo à porta de casa e transportando as compras do "patrão" às empresas cada vez mais high-tec. a privatização do que um dia se pensou ser o monopólio do Estado - à privatização de quem dá umas porradas nas cores alheias
ovos de mamba há muitos. e têm todos o mesmo fenotipo