Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
Outros elos pessoais
02 junho 2006
Inhassunge: magia e assassinato de mulheres idosas
Segundo o jornalista, acusadas de serem responsáveis por infortúnios diversos (mortes por doença, por exemplo), mulheres idosas há que abandonam o distrito à noite e vão para a cidade de Quelimane, onde se dedicam à mendicidade.
De acordo com um residente da zona, todas as semanas assim sucede. E fazendo fé no presidente da Associação dos Médicos Tradicionais da província da Zambézia, “qualquer natural de Inhassunge nasce, cresce e morrer a pensar que a doença é obra do feitiço. Nada acontece naturalmente, tudo encontra explicação na magia negra…” (“Notícias”, p. 2). Teria sido interessante apurar se o fenómeno é tão natural assim.
Entretanto, para contrariar a acção do suposto feitiço, os parentes do (a) acusada de feitiçaria são colectados em determinados montantes monetários destinados a pagar os serviços de um grupo punidor de jovens, os jovens do “machado mágico”, que batem no (a) acusado (a) ou (o) a matam, deixando depois o machado no quintal da vítima (idem).
Portanto, a pergunta nunca é “O que é que provocou esta morte?”, mas, antes, “quem é que provocou esta morte?”
Infelizmente, o jornalista não explorou a relação existente entre acusação de feitiçaria e propriedade de coqueiros. Na verdade, tal como acontece na zona costeira da província de Inhambane, frequentemente as acusadas de feitiçaria são mulheres proprietárias de coqueiros.
O nosso país não dispõe de uma “comissão sobre bruxaria e rituais de violência”, à semelhança da África do Sul, onde, por exemplo, em 1994, se registaram centenas de mortos por acusação de bruxaria e assassinato (“Notícias”, 21 de Agosto de 1995, p.9).
Dedicamos muitas horas ao debate sobre vítimas de malária, de HIV/SIDA, etc., mas nenhuma a este trágico fenómeno, cujos inúmeros casos raramente chegam à alçada da polícia ou dos tribunais, dada a cultura do silêncio e do medo que o rodeia.
Devíamos assustar-nos com a dimensão do problema, se tivermos em conta as dificuldades com que os camponeses vivem, a exposição a doenças de todos os tipos, a deficiente assistência médica e medicamentosa que recebem, etc.
1 comentário:
Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.
Sem querer relegar para segundo plano o tema central de seu artigo, gostaria de chamar a sua atençao, se me permite, para a correlaçao que começa a existir, em certos paises d’Africa Central, entre HIV/SIDA e magia, o novo conceito que apareceu é o de SIDA MISTICA – i.é SIDA enviada por feiticeiros.
ResponderEliminarIolanda Aguiar