“Street Corner Society”, de William Foot Whyte é, na minha opinião, um dos mais notáveis documentos sociológicos de sempre.
Um verdadeiro clássico da sociologia, que devia constituir leitura obrigatória em qualquer departamento ou faculdade de sociologia.
Trata-se da descrição apaixonante da vida de um quarteirão italiano de Boston, Estados Unidos, nos anos 30, a que ele deu o nome fictício de Cornerville.
O livro é notável a todos os níveis. Mas eu queria salientar um aspecto fundamental: Whyte recusou ver o quarteirão popular (slum) que estudou como um repositório de anomia, de delinquência, de patologia social, de caos, de desorganização social (que ele tomava pela visão da classe média sobre os quarteirões pobres), assim criticando severamente ideias-chave da Escola de Chicago, cidade onde aliás viria a trabalhar estudando a organização do trabalho nos restaurantes.
Na obra de Whyte, Corneville surge como como um sistema social fortemente organizado e integrado.
A obra, inserida dos chamados community studies feitos pelos investigadores americanos, é uma crítica indirecta ao modelo das ciências sociais surgido nos anos 60: abstracção conceitual, aparelhagem estatística e ausência de indivíduos concretos. Da mesma maneira, é um livro despido do ritual universitário (notas de rodapé, citações de outros autores, etc.).
Eis uma afirmação bela dele:
“Estou convencido de que a evolução real das ideias quando duma pesquisa não corresponde às proposições formais que podemos encontrar nos manuais de sociologia.”
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Whyte, William Foote, Street Corner Society, La structure sociale d´un quartier italo-américan. Paris: La Découverte/Poche, 2002.
Ontem saí para ir aos correios, pelo caminho, passei por uma loja de livros antigos e entrei. Quem encontro? Nem mais nem menos que “street corner society”. O Sr, tem toda a razao nos comentarios que tece Professor.
ResponderEliminarSe me permite deixe-me apenas transcrever o que diz Tourraine na contra capa “Um trabalho deste tipo é mais do uma aprendizagem. É uma iniciaçao à experiencia que define o sociologo: a compreensão do outro na partilha de uma condiçao humana”.
Agradeço-lhe imenso.
Aproveito a oportunidade para agradecer-lhe uma vez mais o esforço quotidiano que faz para “descomplicar”a sociologia, atravez do seu blog. Agradeço a todos os colegas que aqui participam pois tenho aprendido bastante convosco.
Mto OBRIGADO a todos
Iolanda
Professor, acabo de encontrar o teu blog e já vejo que voltarei mais vezes. Street Corner, para mim, é o clássico da sociologia urbana. É A fonte para qualquer pesquisador, sobretudo para aqueles que, como eu, trabalham em uma Cornerville (a "minha" se chama Cruzada São Sebastião) e saem de suas casas nos bairros de classe média para desempenharem um papel alhures (tudo no Rio de Janeiro), além daquele que lhe parece 'óbvio', mais aparentemente responsável pela empreitada: o de antropólogo ou sociólogo. Nisto também Foot-Whyte nos dá uma boa luz ao dizer, ao seu modo, o velho provérbio que o 'nativo' sempre levará em conta: "diga-me com quem andas...."
ResponderEliminarUm abraço e voltarei mais vezes!
Soraya