Outros elos pessoais

04 maio 2006

"Poder"

Não há qualquer tipo de relação humana exterior à(s) relação (ões) de poder.
A evidência empírica mostra-nos que lá onde seres humanos estão em contacto, questões muito simples se põem regularmente, a saber: quem influencia, quem manda, quem induz, quem ganha, quem perde, etc.[1].
Uma vez que não possuímos todos os mesmos interesses, os mesmos recursos e os mesmos trunfos, toda a relação humana é assimétrica, quer dizer, haverá sempre quem tenha mais «poder» do que outrém e, por consequência, mais dividendos. Dada essa assimetria, o conflito é uma parte constitutiva de toda a cooperação[2], uma força de socialização[3] e de orientação por excelência.
Entendo por relação política de poder aquela cujos competidores lutam por assegurar a direcção do Estado[4], quer seja para a manter, quer seja para a obter[5].
___________________________
[1]Crozier, Michel, Le phénomène bureaucratique, Essai sur les tendances bureaucratiques des systèmes d'organisation modernes et sur leurs relations en France avec le système social et culturel. Paris: Éditions du Seuil, 1963, p.7; Elias, Norbert, Qu'est-ce que...,op.cit., p.84.
[2]Quivy, Raymond e Campenhoudt, Luc Van, Manual de Investigação em Ciências Sociais. Lisboa: Gradiva, 1992, pp.126-134.
[3]Veja, a propósito, Simmel, Georg, Le conflit. Paris: Circé, 1992, pp. 19, 34.
[4]Este é um conceito extremamente complexo e, na verdade, ambíguo, especialmente nos estudos sobre o político em África. Se ele fosse tomado à letra neste curso, isso significaria que ficaria de fora da análise o que em tantos textos aparece como o pré-estatal, como o «sem Estado», na prática como o «sem político». A famosa dicotomia clastresiana «sociedades sem Estado/sociedades com Estado», da qual nas ciências sociais moçambicanas eu fui um pouco responsável nos anos 8O, é, a esse respeito, emblemática.
[5]Esta é uma definição muito vizinha da de Weber, Max, Le savant et le politique. Paris: Plon, 1959, p.100.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.