Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
Outros elos pessoais
26 maio 2006
Pequena sociologia das tchuna-babes
1. Origem da expressão
2. Locais públicos de exibição das tchuna-babes
3. Os mais velhos e o temor
4. Razões do interesse na net pela expressão
______________________________
1. A palavra tchuna parece não ter origem directa em nenhuma das línguas locais. Tudo indica ser simples produto da criatividade dos nossos jovens. Nasceu, eventualmente, por parentesco fónico ou de outro tipo com palavras de línguas que ignoramos (e que certamente os seus utentes também ignoram). Quanto a babes, trata-se, naturalmente, de um aportuguesamento do plural inglês "babies". Poder-se-ia traduzir por "meninas bonitas".
A expressão tchuna babes está bem encastoada no vocabulário popular, mesmo em Changane. Na prática a expressão remete para beleza, tentativa para impressionar, “arrasar” os mirantes. Vamos a ver o que me escreveu hoje, via email, uma antiga aluna minha, a Helena Monteiro, a meu pedido:
“A palavra tchuna é calão (parece que é só de Maputo) e quer dizer impressionar ou chamar a atenção.
A expressão está a ser muito utilizada agora para fazer referência às calças jeans elásticas. As calças são de várias cores, mas têm de ser elásticas para ficarem justas ao corpo e é por ficarem justas que se tchuna ou se chama atenção. As pessoas dizem que quem as veste acaba por chamar a atenção por mais que tenha corpo mal feito.
A expressão é utilizada também quando uma pessoa quer impressionar numa festa, neste caso diz: “eu vou tchunar na festa”, algo como “vou arrasar na festa”.
2. Existem, na cidade de Maputo, duas possibilidade de vermos as jovens com as tchuna-babes.
Temos a Avenida 24 de Julho, no troço que vai entre o restaurante Piri-Piri e a antiga Fnac. Aí, diariamente, especialmente de tarde, passam as jovens em grupo, exibindo as tchuna com elegância, donaire, umbigo à mostra, corpo bamboleante, muitas delas estudantes da Escola Comercial, da Escola Industrial e da Secundária Josina Machel.
Temos, no início da noite, as jovens trabalhadora do sexo que se postam na Avenida Mao Tsé- Tung, junto ao restaurante Sheik, procurando atrair clientes.
3. Os mais velhos temem esta redesenhagem estética do corpo das nossas jovens. Eles acham que tudo vai mal, que os costumes estão agora dissolutos. Agarrados ao passado (onde tudo era saudável, dizem), vituperam um presente que não compreendem e temem. Recentemente, mulheres da Organização das Mulheres Moçambicanas pediram ao presidente da República que fosse publicada uma lei proibindo as jovens de usar calças apertadas. Naturalmente o presidente foi sensato e explicou-lhe que isso não era possível.
4. Como se recordam, anteontem começou o que chamei “assalto” ao meu blog devido à expressão. Primeiro da Argentina, depois de outros países sul-americanos, falantes de espanhol e de português.
Ora, tudo leva a crer que a afluência tenha a ver com a leitura de três portais, a saber:
http://www.uol.com.br/
http://actualidad.terra.es/articulo/html/av2895194.htm
http://www.clarin.com
Um leitor brasileiro foi o primeiro a colocar-me essa hipótese (existe uma entrada dele neste blog). Depois, uma leitora espanhola, a Carmen, muito me ajudou na busca dos portais.
Entretanto, a busca da expressão no google conduzia e conduz directamente ao meu blog.
______________________
Finalmente: serão bem vindos todos aquelas e todos aqueles que corrigirem e/ou ampliarem o conjunto de hipóteses aqui deixado.
Kanimambo (=obrigado)!
5 comentários:
Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.
Aqui no Brasil as calças jeans tipo "stretch" são muitíssimo comuns. Como disse a Helena, é um tipo de jeans com lycra, que adere ao corpo. Mais comum ainda são as calças de cintura baixa, justas ou não. Já é difícil encontrarmos calças com o cós à altura do umbigo, estão sempre bem abaixo.
ResponderEliminarEstou surpresa com a reação de alguns segmentos sociais daí com relação ao uso dessas calças...
Uma brasileira
Quanto à origem da expressão, o calão Tchuna seria um sinónimo do também calão inglês tunning (do tuning, mas que é mais do que ajustar), em que, por exemplo, o individuo troca as rodas originais do seu veículo por rodas de liga leve cromadas, etc. e disse-se que ele “tchunou” o carro. Portanto, tem o sentido de agregar valor a algo.
ResponderEliminarAqui tb se diz isso. Aportuguesou-se o termo "tunning", virou 'tunar', usado mesmo no setor automobilistico, como diz Mangue. Meu irmão sempre fala algo assim...
ResponderEliminarUma brasileira
Por trás dos Tchunas
ResponderEliminarPara Josué de Castro, a fome “... é a expressão biológica de males sociológicos”. Será que em Moçambique, para os “mais velhos” e para as mulheres da OMM, seriam as Tchunas a expressão estética dos males sociológicos? É apenas um conflito de gerações ou existe esse facto, o de que “... os adultos compram calças importadas do Brasil para jovens e adolescentes com o objetivo de ganhar "favores sexuais”? ou seja, o velho abuso de menores – quando não são traficadas - com as tchunas como a moeda da vez? Entretanto, da mesma forma que se pensa que um prato de comida resolveria o problema da fome, será que os “mais velhos” querem fazer crer que a proibição das tchunas resolveria os problemas sociológicos (e morais)?
Geralmente ficamos atentos à violência quando é tangível; quando ela é visível e quase sempre ignoramos a violência simbólica. Por ser simbólica, ela é facilmente dissimulada. Ela, inclusive, convoca a cumplicidade de quem sofre essa violência. Uma psicóloga amiga, que atende menores abusadas em Patos de Minas – geralmente o abuso vem de dentro de casa - disse uma vez que, impotentes diante do seu sofrimento e como forma de ser libertar, é comum que estas passem, mais tarde, a seduzir; é comum que passem a ter o papel ativo de sedutoras e a consumir certos símbolos que ajudam a camuflar a violência sofrida e a sociedade toma isso, nessa fase, como “liberdade de escolha”. Diante disso, seria de perguntar quais os limites entre uma liberdade de escolha efectiva e a suposta liberdade que esconde sofrimentos daqueles que se submetem para ter e assim poder ser?
Interessante mesmo é perceber que “jeito” vai, “jeito” vem; “tchunas” vão, “tchunas” vêm e “discussões” vão e voltam e os índices de HIV, esses sim, sobem!
As tchuna babes constituem apenas o bode expiatorio de um problema que nao encontra meios eficazes para o seu combate: a sida. Exemplos adicionais podem ser "a cultura" a tradicao bem como a pobreza. Esses constituem os actuais bodes expiatorios das agencias de luta contra a sida para justificarem as sucessivas falhas no seu combate para depois pedirem mais dinheiro com vista a reforcar "as accoes de combate e prevencao desta pandemia"!
ResponderEliminarHavera maior hipocrisia criminosa do que insitir em metodos errados?
A preservatizacao do sexo, e outra forma que esses mensageiros apregoam.
A proposito, evita-se a guerra andando em Tanques de guerra como tem acontece com os Preservativos?