Sonhadores, os sociólogos sempre procuraram duas coisas: as leis do social e a reforma das sociedades. Cá por mim busco bem pouco: tirar a casca dos fenómenos e tentar perceber a alma dos gomos sociais sem esquecer que o mais difícil é compreender a casca. Aqui encontrareis um pouco de tudo: sociologia (em especial uma sociologia de intervenção rápida), filosofia, dia-a-dia, profundidade, superficialidade, ironia, poesia, fragilidade, força, mito, desnudamento de mitos, emoção e razão.
Outros elos pessoais
10 maio 2006
Os PhDados
Na mais banais, singelas coisas da vida, tudo fazemos para convencer os outros de que somos realmente PhDados. Provavelmente até nos aniversários.
Na realidade, aqui na terra o PhDismo campeia por todos os lados, de forma galopante.
4 comentários:
Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.
E ainda por cima nada publicam, apenas viajam para os congressos.
ResponderEliminarJonas
Concordo consigo Jonas, mas estou em querer que o facto dos “conferencistas militantes” nada publicarem, nao é o mais grave para mim. O mais grave e intoleravel, a meu ver é quando os ditos “conferencistas militantes” nao publicam e nem deixam publicar, i.é nao dao hipoteses a jovens investigadores de participarem nas conferencias, enquanto local de troca de conhecimento e possivel vector de publicaçoes.
ResponderEliminarExemplo:
Caso 1:
[A]trabalha numa organizaçao internacional, sempre que a ocasiao se proporciona [A] tenta promover jovens investigadores Africanos. Assim, [A] envia um convite para uma instituição em Sao Tomé e Principe, convidando [B] para participar numa conferencia, num outro país africano. [B], é uma jovem saotomense, recém licenciada em historia, empreendedora, brilhante e promissora.
Entretanto, passado um tempo consideravel, [A] não obtem resposta de [B]. Assim, [A] considerando a hipotese que, por vezes em Africa os serviços de correios,nao funcionam como o desejado (cartas demoram muito tempo, por vezes desaparecem, etç), telefona a [B] informando-a pessoalmente. Esta ultima confirma que de facto nada tinha recebido.
Assim sendo, e como o tempo tornava-se factor limitante [A] empreende todas as demarches para a compra do bilhete de passagem de [B], desbloqueia a verba necessaria para o “l’argent de poche” e envia novamente o convite a [B]. Mas desta vez o convite segue pelo correio da organização internacional em questão. Assim [B], consegue recuperar o seu convite. Ja na posse de seu convite [B] entra em contacto com sua chefe [C], para que esta desse o seu aval. Uma vez que [A], ja se tinha ocupado de tudo o resto, [C] so precisava de autorizar a emissao do passapote de serviço.
Ora, [C] disse nao ser possivel, porque o tempo era muito curto!!! Chamo a vossa atençao que a Ilha de Sao Tomé, tem uma área de cerca de 857 Km2, sendo o eixo de maior comprimento de cerca de 47 Km. Dos cerca de 150 000 habitantes cerca de 50 000 vivem na cidade capital; Enfim, sera tao dificil assim obter um visto de saida num passaporte de serviço?
Caso 2:
[C], é convidada oficialmente para uma conferencia, num pais africano. Ja no local da conferencia [C], encontra [D]. Esta ultima é simplesmente uma jovem estudante, que tinha trabalhado durante as ferias, acumulado dinheiro, pagando assim sua propria passagem para ir à conferencia. Quanto ao alojamento [D], assaltou a casa de uma de suas amigas. Embora estivessem ambas ([C], [D]), na mesma conferencia para apresentarem comunicaçoes sobre STP, era preciso nao esquecer que[C] fora oficialmente convidada. Nesta qualidade [C], foi entrevistada, nao perdendo a opurtunidade para marcar a diferença entre os “conferencistas militantes” e os outros. [C], disse “a minha comunicaçao é aquela que vem verdadiramente de STP....”
Acho que este exemplo fala por si e despensa qualquer comentarios, nao tenho nada contra
os “conferencistas militantes” mas pretendo, apenas chamar a atençao a sua acçao poder abafar a emergencia de novos talentos. Chamo a atençao que normalmente os ditos “conferencistas militantes” utilisam dinheiro da “coisa publica”, para seu beneficio pessoal – ir arejar... nao publicam como mto bem diz o Jonas e pior que tudo criam uma especie de rede inquebrantavel, onde os que têm vontade de publicar dificilmente podem penetrar ...
Iolanda Aguiar
Devo concordar consigo, aqui creio que o mesmo ocorre,o ciume...
ResponderEliminarJonas
"A Universidade e os Phdados": uma producao em série de massa a-crítica
ResponderEliminarA globalização neoliberal é por excelência produtora de uma visão de mundo consensual e hogemónica, evacuando o conflito e a alteridade na estrutura das relações sociais.Todavia, a globalização contra-hegemónica (liderada pelos movimentos sociais alternativos) revela de forma paradigmática quão falsa é a ideia de uma visão dogmática do mundo, logo todo o acordo é potencialmente um pseudo-acordo, veiculando tão somente um pensamento social e político hegemónico.
Observa o professor Carlos Serra que o "PhDismo campeia por todos os lados de forma galopante". Todavia não existe uma correlacão significativa entre o incremento de "PhDados" e o refinamente e o aprofundamento de debates públicos esclarecidos. É mesmo para dizer que as universidades tornaram-se em autênticas salchicharias produzindo, em série, doutores e/ou pós-doutores despidos de consciência crítica e problematizante do social. Em suma, não produz intelectuais.
Consideram-se intelectuais todos aqueles que "tenham adquirido, com o exercício da cultura, uma autoridade e influência dos debates públicos". Enquadram-se melhor nesta categoria o músico Jeremias Ngwenha, e o escritor Mia Couto. O primeiro, sob a metáfora de uma "bicha" retractou exemplarmente o Estado patrimonial e o nepotismo daí decorrente e a precariedade dos direitos de cidadania no nosso país.
Objectivamente os "PhDados", de acordo com a sua intervenção social, devem redimensionar (tornando-se mais humildes) o seu "tom de profundidade trabalhda e a sua auto-satisfação proteica e profética". A manutenção do seu prestígio, decorre do facto de estarmos a viver numa sociedade "titulocrática" e socialmente facista, descomprometida com a busca ou aproximação da verdade. Por isso mesmo os ilustres "PhDados" se acomodam, aparentemene tranquilos, numa sociedade onde os processos se exclusão social preponderam sobre os de inclusão, isto é sentam-se e fumam por cima de um barril de pólvora.
Muito deles justificam o sua não intervenção social no princípio da neutralidade ética weberiana embora, por outro lado, Popper nos ensina que "um ponto de vista é inevitável, e a tentativa ingénua de evitá-lo só pode levar ao engano, e à aplicação não crítica de um ponto de vista inconsciente".
No meu entender os ilustres "PhDados" estão a padecer daquilo a Paula Meneses qualificou de "proletarização intelectual" e que Carlos Serra designou de "mentalidade projectista" uma clara tentativa de aburguesamento, sem contudo, dedicar um olhar crítico ao social, acomodados na pseudo-estabilidade.
O dia 23 de Fevereiro do corrente ano a ocorrência do sismo embora vivenciada traumaticamente, foi pedagógica. Veio provar a todos os moçambicanos que toda a estabilidade, é potencialmente uma pseudo-estabilidade. Assim sendo, não nos admiremos que um dia Moçambique se torne todo ele numa autêntica "Espungabera" não do ponto de vista sísmico-geológico, mas sim de convulsão social.