No século XVIII, a academia francesa de Dijon premiou o “Discurso sobre as Ciências e as Artes” (1749), um ensaio da autoria de Jean-Jacques Rousseau.
Uma das questões à qual Rousseau tentou responder, foi a de saber se o progresso das ciências e das artes tinha contribuído para a virtude e para a felicidade dos seres humanos. Nessa altura, havia a crença de que a ciência permitiria a construção de uma sociedade regida pela Razão.
Ora, Jean-Jacques Rousseau mostrou que a sociedade se baseava na desigualdade, que a cultura se encontrava ao serviço de uma aristocracia corrompida e que o seu luxo repousava na miséria popular. Por outras palavras, à opulência de uns, poucos, opunha-se a indigência de outros, muitos. A sua crítica não foi apenas contra a sociedade feudal, mas contra toda a sociedade fundada na desigualdade de rendimentos. Portanto, ciências e artes não tinham contribuído nem para a virtude nem para a felicidade dos seres humanos[*].
O manifesto de Rousseau continua actual, vivo.
Nós, cientistas sociais, aprendemos, século após século, a criar os nossos espaços fechados, institucionais, asseptizados, divorciados daqueles que, arrogantemente, estudamos, dissecamos, hipotecamos e congelamos em teses, em artigos publicados nas revistas especializadas, em seminários internacionais sempre concorridos. Profetizamos, não resolvemos nem ajudamos a resolver. Somos os novos oráculos de Delfos.
Queiramos ou não, nós estamos ao serviço daqueles que Rousseau denunciou, estamos ao serviço dos poderosos.
_________________________________
[*] Rousseau, Jean-Jacques, Discours sur les Sciences et les Arts. Paris: Seuil, 1971, Oeuvres Complètes, tome 2, pp. 52 e seq.
Sem comentários:
Enviar um comentário
Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.