Outros elos pessoais

09 maio 2006

Do exotismo ao respeito pela diferença cultural


Nada de Victor Segalen ficou escrito em vida. Após a morte, em 1919, diversos textos seus foram publicados.
O seu “Ensaio sobre o exotismo” é hoje um clássico.
Produto da sua estadia na Oceânica, o livro é um hino de respeito pela diferença, um pensar o diverso consequente em relação a outras culturas.
Ele tentou manter a distância entre em si-mesmo e o Outro, no caminho (a “estética do diverso”, como a intitulou”) que ensaiou percorrer entre a sua própria especificidade e a particularidade do Outro diferente. São suas expressões como “o forte savor do diverso”, “o espectáculo da diferença”.
Tanto quanto se percebe do livro, Segalen nunca quis ser o Outro, mas apenas entendê-lo.
Isso é tão mais fascinante quanto em 1919, ano da sua morte, se estava em plena globalização colonial.
Queremos ser o Outro, ser como os Outros, ser eles-mesmo? Impossível: apenas podemos ser nós, não podemos, por exemplo, ser Chineses. Mas podemos e devemos ser pontes desde que respeitemos a diferença. Nunca devoremos esse Outro com as nossas categorias de percepção, nunca, perante ele, sejemos antropofágicos com os olhos da cultura ocidental.[1]
A sua obra dá uma consistência maior, bela, a esses outros respeitadores do diferente cultural que foram, entre outros, Montaigne[2] e Fernão Mendes Pinto.[3]
_________________________
[1] Segalen, Victor, Essai sur l´exotisme. Paris: Fata Morgana, 1978, passim.
[2] Montaigne, Michel de, Essais. Paris: Librairie Générale Français/Le livre du poche, 1972, tome 1 (pp. 303-319) et tome 2 (pp. 75-295).
[3] Pinto, Fernão Mendes, Peregrinação. Lisboa: Publicações Europa-América, s/d, 2.ª ed., passim.

2 comentários:

Seja bem-vinda (o) ao blogue "Diário de um sociólogo"! Por favor, sugira outras maneiras de analisar os fenómenos, corrija, dê pistas, indique portais, fontes, autores, etc. Não ofenda, não insulte, não ameace, não seja obsceno, não seja grosseiro, não seja arrogante, abdique dos ataques pessoais, de atentados ao bom nome, do diz-que-diz, de acusações não provadas e de generalizações abusivas, evite a propaganda, a frivolidade e a linguagem panfletária, não se desdobre em pseudónimos, no anonimato protector e provocador, não se apoie nos "perfis indisponíveis", nas perguntas mal-intencionadas, procure absolutamente identificar-se. Recuse o "ouvi dizer que..." ou "consta-me que..."Não serão tolerados comentários do tipo "A roubou o município", "B é corrupto", "O partido A está cheio de malandros", "Esta gente só sabe roubar". Serão rejeitados comentários e textos racistas, sexistas, xenófobos, etnicistas, homófobos e de intolerância religiosa. Será absolutamente recusado todo o tipo de apelos à violência. Quem quiser respostas a comentários ou quem quiser um esclarecimento, deve identificar-se plenamente, caso contrário não responderei nem esclarecerei. Fixe as regras do jogo: se você é livre de escrever o que quiser e quando quiser, eu sou livre de recusar a publicação; e se o comentário for publicado, não significa que estou de acordo com ele. Se estiver insatisfeito, boa ideia é você criar o seu blogue. Democraticamente: muito obrigado pela compreensão.