Existem nos Outros moçambicanos - os excluídos do bem- reservas de esperança, de crença de que melhores dias poderão vir.
São, afinal, Outros que, apesar de tudo, lutam e que continuam a aguardar pelo paradigma de Mondlane.
De acordo com Eduardo Mondlane, primeiro presidente da Frelimo, os camponeses recusavam aderir à luta de libertação nacional nos dois primeiros anos (1964/1966), desertando e juntando-se aos Portugueses, porque o movimento não estava preparado para lhes assegurar os serviços essenciais (lojas, hospitais, escolas, administração, tribunais, etc.), anteriormente a cargo dos Portugueses.
Dessa maneira, Mondlane estava a pôr o problema político, sempre actual, do pacto social. O paradigma de Mondlane pode ser assim enunciado: se um grupo dominante controlando o Estado exige fidelidade, os cidadãos exigem a redistribuição da riqueza. Se esta é assegurada, o Estado torna-se, no sentido de Gramsci, hegemónico, no sentido de que dirige, em lugar de coagir.
Ora, quando o Estado não assegura a reciprocidade no sentido indicado, não tem cidadãos, mas súbditos a quem pode maltratar.
Os súbditos continuam a aguardar a reciprocidade, com um forte sentido apelativo. Eles fogem do Estado porque não confiam nele, mas ao mesmo tempo esperam que mude. Existem evidências de que a concepção de democracia em Moçambique está profundamente ligada à satisfação de necessidades básicas como alimentação e paz e de que essa satisfação, mormente no que concerne ao bem-estar material, passa pelos estrangeiros e não pelo Estado. Por outro lado, herdeiros de um longo passado de gestão autoritária desde a era colonial, os súbditos parecem pouco preocupados com a democracia política tal como concebida pelas élites e pelos partidos políticos. O seu sonho está na democracia "económica".
E enquanto esperam, formatados entre o que sofrem e o que sonham, frágeis e expectantes, os súbditos refugiam-se no seu mundo, o mundo do informal, com um ponto de interrogação todos os dias plantado no seu futuro.
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